segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

MEMORIAS


O MÊS QUE MUDOU O RUMO DA MINHA VIDA


Uma noite, nos inícios de Dezembro de 1964, pela última vez, ia levar o funcionário do Partido para um encontro clandestino. Durante um ano transportava-o no carro dos meus pais e por vezes de pessoas amigas que me "desenrascavam" à última da hora. No último encontro que tive com ele falámos sobre a minha ligação à organização, assim como de quem me iria substituir nesta tarefa de transporte.

Moreira pediu-me para conduzi-lo a um encontro em Benfica e vir buscá-lo, ao jardim de Carnide, 1 hora mais tarde. Naquela época, felizmente para os clandestinos, a iluminação da cidade era péssima.

À hora estipulada estava eu no jardim de Carnide, mas desta vez o funcionário não apareceu. Esperei cerca de dez minutos e regressei meia hora mais tarde, como estava previamente combinado, nada aconteceu, e na minha cabeça ecoava a frase: “ o Moreira foi preso, será que aguenta a tortura?” Nessa mesma noite fui ter com a Teresa e disse-lhe: -“ O Nuno Alvares foi preso, não me apareceu no segundo encontro marcado”. Nuno Alvares Pereira - assim se chamava o funcionário responsável.

O sector estudantil em Lisboa tinha sido, até aí, poupado da repressão policial, devido ao comportamento exemplar na prisão de Aboim Inglês e José Bernardino, anteriores responsáveis pela organização. A nossa esperança foi que este funcionário também se aguentasse ….

Comuniquei o sucedido ao “organismo “ a que pertencia e aguardei. Todos os dias comprava os diários matutinos à espera de uma nota da PIDE anunciando a prisão de dois perigosos comunistas. Nessa altura já se sabia que Crisóstomo Teixeira, estudante da Faculdade de Ciências, tinha sido preso num encontro de rua.

Por prudência, depois de ter avisado alguns camaradas que conhecia, mudei-me para casa da minha avó, em Algés. Porém, continuei a ir às aulas na Faculdade e no dia 21 de Janeiro, de manhã, ao entrar no Hospital de Santa Maria, pela Av. Prof. Gama Pinto, soube logo da notícia que vinte e tal estudantes tinham acabado de ser presos. Depois de conhecer a lista verifiquei que pelo menos onze me conheciam partidariamente e isso foi suficiente para decidir sair do país.

Com a Teresa planeámos ir para a Suíça, onde vivia a sua tia funcionária da OMS e uma irmã com a família. Como desconhecíamos a extensão da denúncia de Nuno Alvares Pereira e por outro lado a Teresa estava, naquele momento, desligada da organização estudantil, combinámos que eu passaria a fronteira a salto e ela tomava o avião em direcção a Genebra. Pura ilusão nossa, o funcionário acabou por colaborar com a PIDE e os nossos nomes já estavam nos postos de fronteira desde o dia 14 de Janeiro. A CIRCULAR-CONFIDENCIAL Nº 128-CI (SECÇÃO CENTRAL) dizia: “ Queira proceder à captura dos nacionais a seguir indicados, transferindo-os imediatamente para esta Direcção e seguia com os nomes de 43 estudantes, em que o da Teresa figurava em primeiro lugar.

A 4 de Fevereiro, Teresa passa a fronteira no Aeroporto e ao entrar num avião da Swissair, os agentes zelosos da PIDE, descobriram que o nome dela estava na lista e correram em direcção do avião, não dando autorização para levantar voo, aos gritos: “tirem as malas por razões de segurança”. Teresa continuou sentada no seu lugar enquanto chamavam o seu nome, pelo microfone, para deixar o aparelho. Só saiu depois de terem identificado os passageiros um a um e do comandante dizer que  estava em território português e tinha de abandonar o avião.

A esta distância imagino a cara do piloto suíço quando viu que a perigosa “terrorista” era afinal uma menina doce e franzina nas suas dezoito primaveras. Quando o avião aterrou em Genebra a tripulação apresentou um protesto que foi publicado na imprensa suíça.

Ficou presa três meses, em Caxias, sofreu interrogatórios, não chegou a ir a julgamento e saiu, sob caução, no dia 27 de Abril.

Eu passei a fronteira a salto, perto de Figueira de Castelo Rodrigo, e no dia 10 de Abril segui para Genebra.

Juntámo-nos nesse Verão na Suíça.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SAUDADES II


O MEU PAI

Grupo de amigos, familiares e antigos clientes resolveram fazer uma homenagem ao meu pai, Abílio da Costa Mendes, o que muito me comoveu.

Foi feito um pedido à Câmara Municipal de Lisboa, cidade que o adoptou e de quem ele tanto gostava, para a atribuição do seu nome a uma rua.

Ao que parece a rua escolhida situa-se na nova urbanização do Alto dos Moinhos. É desejo da comissão fazer coincidir a efeméride com a data do seu nascimento, 10 de Abril.

Mais tarde darei notícias das comemorações que se vão realizar integradas nestas celebrações, hoje quero somente relembrar o meu pai, médico pediatra tão querido e respeitado por todos os que com ele conviveram: meninos e meninas que ele acompanhou durante anos e que hoje já são adultos. Iniciou muito novo a clínica pediátrica e chegou a cuidar de três gerações da mesma família.

Diariamente encontro pessoas que se referem a ele, como também ao meu irmão Abílio, com muita saudade, gratidão e amizade.

Pelos consultórios, primeiro na Travessa do Calado e depois na Avenida António Augusto de Aguiar, onde eu e o meu irmão também colaborámos, passaram cerca de vinte mil crianças, todas com fichas registadas no arquivo do consultório.

O meu pai, homem de uma grande cultura humanística, foi além dum clínico prestigiado, um pedagogo e um precursor da nova pediatria. Sempre tratou os seus pequenos clientes, com uma visão holística da medicina, respeitando a sua própria individualidade.

Bebeu os conceitos que orientaram a sua vida nos filósofos dos fins do século XIX e princípios do século XX, assim como nos grandes escritores dessa época. Sofreu a influência dos autores franceses e russos de então, Emile Zola, Roman Rolland, DostoievsKy, Tolstoi. Lembro-me desses livros na sua mesa-de-cabeceira, e também do de escritores portugueses como: Raul Brandão, Fidelino Figueiredo, Aquilino Ribeiro, Miguel Torga e o grupo da Seara Nova com referência especial a António Sérgio.

O grande Mestre que o marcou no campo da Medicina foi sem dúvida Abel Salazar, a quem já chamaram o Leonardo da Vinci português, pela sua cultura humanística excepcional. Quando veio para Lisboa continuou a correspondência com o mestre e publicou inúmeros artigos na revista “Medicina”, órgão da Associação de Estudantes de Medicina de Lisboa, da qual foi director.

Na pedagogia foi influenciado por Maria Montessori, Pestalozzi e pela escola americana de Arnold Gesel com as suas teorias sobre o desenvolvimento infantil.

A escola behaviorista e as experiências de Pavlov também o marcaram tendo criado um esquema de alimentação infantil próprio, contrário ao da escola académica, que constituiu um dos maiores sucessos da sua clínica. Homem de carácter forte, nunca foi influenciado pelas "modas" em medicina. Sempre lutou pela amamentação dos recém-nascidos, durante os primeiros meses de vida, privilegiando o contacto mãe/criança (reconhecido hoje mundialmente) e o hábito duma disciplina de vida, contra a anarquia e a liberdade sem limites, propagada nos anos sessenta e tão criticada actualmente por psicólogos e psiquiatras infantis. Um dos seus grandes sonhos foi a criação de uma "escola de mães".

Abílio Mendes nasceu na Maia, a 10 de Abril de 1911, e era o mais novo de uma fratria de onze; oriundo de famílias humildes tendo o seu pai emigrado para o Brasil.

Foi um autodidacta. A sua irmã mais velha educou-o com carinho, até aos 12 anos, o melhor que pode. Foi só nessa idade que conheceu o seu pai, numa das suas vindas a Portugal.

Como era um excelente aluno, o pai prometeu-lhe pagar os estudos e um curso de engenharia, para mais tarde ir com ele trabalhar na fábrica de cimento armado que tinha no Rio de Janeiro. Começou por se inscrever num curso industrial, mas aos 15 anos escreveu ao Pai manifestando o desejo de seguir Medicina, ao que este aquiesceu com a condição de se reprovasse um ano iria para o Brasil trabalhar como os irmãos. Fez o curso geral do liceu em três anos e entrou na Faculdade de Medicina do Porto em 1931.

A veia política e jornalística foi uma constante na sua vida. Adolescente foi chefe de redacção do “Jornal da Maia” dirigido por António Macedo e redactor da revista “Gérmen “, da Associação dos Estudantes de Medicina do Porto. Em Lisboa, cidade onde terminou o curso, foi eleito director da revista “Medicina”, jornal de ciência, arte e humanismo e igualmente órgão da Associação de Estudantes. Já médico colaborou com os editores dos livros da colecção Gleba e Sírius.

Sócio nº 253 da Associação Profissional dos Estudantes de Medicina do Porto foi director (delegado de curso) do ano 1932 – 1933, onde participou na trágica e grandiosa greve em que morreu o estudante Emílio Branco e sofreu, pela primeira vez, a agressão policial.

O Porto e cidades circunvizinhas entraram em luto, durante uma semana, cobrindo as varandas e as janelas com panos pretos.

Por esta altura, fundaram-se as três lojas Maçónicas Académicas: Porto, Coimbra e Lisboa, patrocinadas por Basílio Lopes Pereira e iniciou uma amizade sólida com Cal Brandão, António Macedo, Veloso Pinho, António Costa entre outros. Foi referenciado pela imprensa reaccionária como adversário do regime.

Em Lisboa, colaborou no Bloco Académico Antifascista, como representante da Faculdade de Medicina, nomeadamente com Mário Dionísio, Manuel da Maia, Álvaro Cunhal e Casais Monteiro.

Mais tarde o Ministro da Educação propôs a sua expulsão, quando lhe faltava apenas uma cadeira para terminar o curso. Valeu-lhe a intervenção dos Prof. A. Celestino da Costa e Barbosa Soeiro que convenceram o Ministro a deixá-lo concluir os estudos e depois mandá-lo para o “exílio “.

Embora muitos dos seus companheiros das lojas maçónicas tenham entrado no Partido Comunista, sobretudo na altura da Guerra Civil de Espanha, como: Manuel João da Palma Carlos, Alexandre Babo, Orlando Juncal, entre outros, o meu pai nunca aderiu aos ideais da revolução soviética, perfilhando antes os ideais vindos da II Internacional. Fez parte da Acção Democrata e Social, do MUD, da Acção Socialista Portuguesa e mais tarde foi um dos fundadores do Partido Socialista.

Tendo concorrido duas vezes aos Hospitais Civis de Lisboa e sempre bem classificado, o que lhe permitia a admissão imediata na carreira hospitalar, foi no entanto excluído por decisão ministerial, que lhe impediu de entrar nos hospitais e na carreira universitária.

Estes métodos, eventualmente “mais suaves”, impostos pela PIDE, visavam fazer vergar os democratas, tendo muitos dos seus amigos sido forçados a exilarem-se nas colónias, em Africa. Um dos seus amigos, Dr. Barbeitos, com consultório na Cova da Piedade, por ter sido mandatário na campanha de Arlindo Vicente (candidato apoiado pelos comunistas) foi perseguido até ao 25 de Abril, chegando os agentes da PIDE a ameaçar os doentes que se dirigiam ao seu consultório.

Obrigado a fazer a sua formação de Pediatra, primeiro em Santa Marta e depois no Hospital Dona Estefânia, em regime de voluntariado, foi posteriormente convidado pelo professor de pediatria, Carlos Salazar de Sousa, para seu “assistente livre “.

Este grupo fundou mais tarde o Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria e o meu Pai continuou sempre a ser impedido, pela Ditadura, a ingressar na função pública.

Segundo nos contava, uma vez o meu avô materno, que era piloto aviador e herói da primeira guerra mundial, desejou interceder por ele, junto de um militar fascista com influência no regímen, assegurando-lhe que o genro não era comunista e que era muito injusta a sua situação. O militar perguntou-lhe: “O teu genro é católico?” Ele respondeu: “Não”. “É monárquico”? “Também não”. “Então se é contra o regime e não é nem uma coisa nem outra diz-lhe que desista, não vale a pena continuar a concorrer aos Hospitais”.

Assim o fez. Desenvolveu toda a sua actividade como médico pediatra, no consultório, tendo sido o único meio de subsistência para si e para a sua família.

Uma das principais características do meu pai, além da sua escrupulosa honestidade, era a auto-disciplina.

A esse respeito, recordo um facto quase anedótico: - Durante anos, começava as suas consultas às 14 horas, quer caísse chuva, quer fizesse sol. Por essa hora, ele descia a Avenida António Augusto de Aguiar e passava por um café, com esplanada, frequentado por inúmeros funcionários públicos. Mais tarde contaram-nos que eles acertavam os relógios quando o meu pai aparecia….

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

MUNDO CÃO II

MUNDO CÃO II


Hoje foi notícia que o Conselho da Europa abriu um inquérito, com pedido de esclarecimento à OMS, sobre as relações da indústria farmacêutica com os “experts “ da organização.

Em questão está a declaração de “ pandemia “ da gripe A / H1N1 e a sua “ ineficiente” estratégia de vacinação.

Em Setembro de 2005, a previsão do número de mortos pela gripe aviaria era de 150 milhões, mais tarde a OMS veio a confirmar que este número não excedeu os 250.

A campanha feita à volta da gripe aviaria está também a ser investigada pela EU.

A OMS estimou que no fim de 2009 teriam morrido com complicações da gripe A cerca de 10 000 pessoas. A gripe sazonal mata entre 250 000 e 500 000 em média por ano de acordo com estimativas feitas pela Organização.

Já classificaram esta falsa pandemia como o maior escândalo médico do último século.

Todavia, é preciso separar o trigo do joio sobre o risco de cairmos em outros erros mais graves. Não parece existir dúvidas que os grandes trusts farmacêuticos influenciaram a OMS nas decisões que tomou em todo este processo, sobretudo com a ajuda dos media para espalhar o pânico no planeta obrigando os países a comprar mais doses de vacinas do que provavelmente necessitariam. Porém, o vírus existe e provocou 12 799, dados da OMS a 3 de Janeiro de 2010, e na maioria dos estudos científicos publicados a vacina tem actuado.

Sempre fui adepto da vacinação como o melhor método para proteger as pessoas das doenças e como forma de erradicação de outras. Veja-se o caso da varíola, poliomielite e sarampo que tantas mortes causaram. Por outro lado, sei que a ganância da indústria farmacêutica é enorme e na corrida aos lucros fabulosos admito que o interesse das populações fique para segundo plano.

É preciso alertar que a cruzada antivacinas que percorre a Internet, com muita persistencia nos USA, nomedamente a recente acusação contra a vacina do rotavirus, que visa proteger dum vírus causador duma diarreia infantil, que salva todos os anos no mundo milhares de crianças, foi acusada de ser a causadora do autismo.

Um dos cientista que preparou esta vacina, Paul Offit, foi também acusado de receber dinheiro da indústria farmacêutica. Um artigo publicado numa das maiores revistas de divulgação médica, The Lancet, e assinado por Andrew Wakefield e treze co-autores, veio alertar e confundir os pais misturando dados científicos com ignorância. Este artigo descrevia 12 casos de crianças que desenvolveram uma estranha doença intestinal e uma alteração no desenvolvimento. Em nove destes casos foi diagnosticado autismo e em 8 os pais associaram a aparição desta alteração com a vacinação dos seus filhos pela tríplice (sarampo, rubéola, papeira). Cada ano centenas de milhares de crianças tomam esta vacina e, por outro lado, com ou sem vacina muitas crianças desenvolvem autismo. O mais provável é que tenha sido uma coincidência nessas crianças.

Porque é que a revista The Lancet publicou este artigo, não sabemos. Mais tarde, veio a lume que o autor ocultou um conflito de interesses, pois tinha recebido dinheiro de um grupo de pais, para ver se existia alguma base científica com o objectivo de iniciarem uma acção legal. Dez dos 13 autores do artigo retrataram-se, negando existir alguma relação entre a vacina e o autismo, segundo contou, mais tarde o ex director do BMJ (outra revista médica de grande divulgação) Richard Smith.

Não estávamos acostumados a assistir à venalidade de médicos, investigadores e dirigentes de Organizações Internacionais com grandes responsabilidades.

Temos que retirar lições e custa-me a alinhar num falso moralismo em que a culpa é só da falta de ética e da ganância dos homens.

Não será antes a própria sociedade que tem sido construída e desenvolvida pela influência de economistas como Milton Friedman, prémio Nobel em 1976, que originou os yuppies dos anos 80.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

GRIPE A





O Humor é uma  lógica subtil. Churchill

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Elvis Presley 75 anos




No dia 8 de Janeiro Elvis Presley faria 75 anos.

As suas músicas preencheram as matinées dançantes dos meus 12 e 13 anos, em casa das irmãs e primas de colegas de liceu.  Estes bailes eram a única maneira de conhecermos raparigas da nossa idade e eram intervalados com música romântica para os namorados e  música do Elvis, Little Richard e mais cantores de rock’nd’roll, para os/as mais exibicionistas. As raparigas rodopiavam mostrando as cuequinhas e os rapazes mexiam os quadris sugerindo imagens libidinosas, isto sobre o olhar austero e crítico das mães que aconselhavam as suas "crias" a não serem tão oferecidas e a controlarem a subida das hormonas próprias da idade. Assim era Portugal, salazarento dos anos cinquenta do século XX.

Recordo o Rei e criador do rock’nd’ roll como a grande Estrela da minha geração e até hoje venceor do maior número de hits parades mundiais e detentor de vendas de disco de todos os tempos. O Rei tem mais de um bilhão de discos vendidos. Não sendo especialista em música, nem querendo ser tardiamente crítico musical, como alguns da nossa praça, vou apenas relembrá-lo como um cantor da minha adolescência.

Dizem os entendidos que uma das suas maiores virtudes era a voz, devido ao seu alcance vocal que atingia notas musicais raras para um cantor popular.

Elvis foi um dos maiores ícones da cultura popular do século XX e continuou a sê-lo após a sua morte. Uma vez um jornalista ao entrevistar o cantor Demis Roussos, que estava no auge da sua carreira, perguntou-lhe: "Como é que se sente na pele de uma Estrela, de um Ídolo?" Ele respondeu: “ Eu ídolo? Ídolo é o Elvis que quando aparece desmaiam sempre algumas raparigas e quando ele se aproxima para as reanimar elas acordam e desmaiam novamente”.

O cantor foi perseguido pelos múltiplos sectores reaccionários dos Estados Unidos, e não só.  A classe dominante achava infame e provocadora a sua presença no palco, por outro lado os negros consideravam que nenhum branco poderia representar o rock.

O Rei morreria, a 16 de Agosto de 1977, devido a um colapso fulminante por disfunção cardíaca associada a excesso de medicamentos. Foi encontrado morto na casa de banho da sua propriedade de Graceland, pela sua namorada à época, Ginger Alden. Algumas semelhanças com outra "Star" Michael Jackson.

Todo este movimento do rock e outros que se sucederam foram precursores das revoltas das juventudes dos anos sessenta, com a sua contestação à geração anterior, e ao crescimento económico desumano do pós-guerra.

Elvis Presley – Love Me Live 1973

Elvis Presley – Love Me Live 1973

AMIGOS DO PÂO DE AÇUCAR




Após ler o relato do meu amigo Raimundo, no blogue caminhodamemória, sobre os amigos do Pão de Açúcar, lembrei-me de publicar a foto anexa, datada de 1963 (se a memória não me falha).
A foto foi tirada nas instalações do Técnico, após um jogo de football, onde alguns já estariam a pensar numa boa preparação física para fugir à PIDE ou resistir à tortura.
Quase todos os que estão nesta foto foram presos, exilaram-se ou entraram na clandestinidade.
Já não me lembro bem de todos os nomes, mas consigo reconhecer além de mim, em baixo, o primeiro à esquerda, o Raimundo, Mário Lino, Rui Martins, Joaquim Letria, Carlos Marum, Hernâni Pinto Bastos; em cima: Fernando Rosas, Marília Cabral, Paula, Noémia, Teresa Tito Morais, Resende, Albano Freire Nunes, Marques dos Santos, etc...
O café onde nos reuníamos, coexistiam o grupo da politica, o grupo dos artistas Belas Artes e Conservatório (músicos e teatro), que muitas vezes se envolviam em grandes discussões politico-filosóficas, além do grupo de informadores da PIDE e Legião, constituído por ex pegadores de touros, chulos e guarda-costas. Um era tão baixinho, que lhe chamavam "o guarda cus".
Lisboa, nessa altura, tinha muitas tertúlias de cafés...  Só nas chamadas "avenidas novas" havia, além deste, o grupo da Copacabana, Mexicana, do Londres, Suprema, Vává, Luanda e mais perto da cidade universitária o Nova Iorque e o Tatu.
Em 1964, na altura da grande vaga de prisões de estudantes, devido à traição do funcionário do Partido Comunista, Nuno Alvares Pereira, fugi para a Suíça onde permaneci até Abril de 1974 (9 anos).
Quando regressei fiquei a residir, uns tempos, em casa dos meus pais na Alameda D. Afonso Henriques, onde se situa o Pão de Açúcar. Uma bela manhã fui tomar café ao balcão do célebre estabelecimento e encontrei um dos frequentadores assíduos, que tinha sido corredor de automóveis (outro grupo existente), e abordou-me perguntando: - Por onde tens andado que não te vejo há tanto tempo?
Respondi: - Estive na Suíça.
Ao que ele retorquiu rapidamente: - Parece que houve lá uma bronca com o MRPP?!
Percebi que nem lhe passava pela cabeça que eu tivesse estado, aqueles anos todos na Confederação Helvética, mas sim tivesse "emigrado" para a Pastelaria Suíça juntando-me a outra tertúlia, o que seria mais lógico no "ram-ram"  lisboeta da época...

Tigre da Sumatra filmado pela primeira vez com crias

Tigre da Sumatra filmado pela primeira vez com crias

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MEMORIA HISTORICA




MEMÓRIA HISTÓRICA

A história pode definir-se como a ciência da memória, além dos historiadores e dos documentos oficiais escritos, os povos devem ter a memória de todos os momentos da crónica do seu país, sejam eles gloriosos ou períodos negros. Quando um povo não consegue, na sua memória colectiva, conhecer e “ enterrar” os períodos mais negros da sua história recente nunca conseguirá construir um Futuro.

A coberto de uma narrativa tendenciosa e partidarizada dos factos, neste caso na Europa e nomeadamente na Península Ibérica, aparecem contadores de histórias assépticos, meros técnicos que produzem fenómenos como o tristemente célebre concurso televisivo: “ Grandes Portugueses “ que elegeu, manipulado ou não, Oliveira Salazar como o maior português de sempre.

A nossa vizinha Espanha, em que o modelo de transição do Fascismo para a Democracia tem sido tão lisonjeado e aplaudido, com a amnistia geral decretada à época, que no espírito de Indalécio Prieto e Gil Robles achavam que a reconciliação nacional só poderia existir apagando o período sanguinário da Guerra de Espanha. Ideia contrária é manifestada por Francisco Etxebarria que desde o inicio do século XXI participou activamente na exumação de fossas de pessoas assassinadas e desaparecidas durante este período.

Emílio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica, tem tido também um papel importante na luta para que não caiam no esquecimento as atrocidades perpetradas pelos fascistas de Franco sobre o povo espanhol.

Hoje são os netos de antifascistas: militantes republicanos, socialistas, comunistas ou anarquistas, assim como de centenas de desaparecidos de servidores da República, eleitos pela Frente Popular: alcaide, governadores civis, chefes de Juntas ou simples operários e camponeses, como aconteceu duma forma bárbara em Badajoz e na raia da Estremadura, que exigem o direito a saber o que aconteceu aos seus familiares desaparecidos.

Calcula-se em 50 000 os opositores mortos em fuzilamentos, numa ilegalidade completa, pelas tropas franquistas e pelo tristemente célebre “ esquadrão negro “ durante a guerra de Espanha.

Quando Franco morreu os arquivos do exército foram destruídos (também cá a PIDE conseguiu fazer desaparecer muitos documentos), milhares de documentos foram queimados. Não deixou traço administrativo a morte de todas estas vítimas, ficou um vazio como se nada tivesse existido.

A Espanha é uma “gigantesca vala comum” foi o grito lançado, em 2006, pelos activistas da Associação para a Recuperação da Memória Histórica que através da Internet conseguiu uma grande mobilização, sobretudo dos netos das vitimas, hoje já “quarentões”.

As suas associações desenvolvem acções junto do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU e reclamam ao governo espanhol que resolva por via judicial, à semelhança do que se passou no Chile e na Argentina, o dossier dos desaparecidos. A Espanha, a seguir ao Cambodja é o país com o maior número de desaparecidos.
Uma lei da memória foi finalmente votada em Dezembro de 2007, não será estranho o facto de José Luís Zapatero ser também neto de um republicano fuzilado durante a Guerra Civil.

Ajudou sem dúvida a evocação do 70º aniversário da morte, a 19 de Agosto de 2006, do mais célebre dos desaparecidos, Frederico Garcia Lorca. Poeta andaluz, da Casa de Bernarda Alba, do Romancero Gitano e tantas outras obras escritas na sua curta existência.

Foi ele que disse: “ Estou e estarei sempre do lado dos que têm fome”

e cantou :

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña

Preso sob a acusação de comunista e homossexual, Franco não conseguiu apagar a sua morte mas sim a sua sepultura. Nas fichas burocráticas a morte do poeta ainda hoje consta que foi devido a uma bala perdida, apesar do seu carrasco fascista se gabar de o ter morto pelas costas devido à sua homossexualidade.

O célebre juiz Baltazar Garzón além de abrir o dossier Lorca ordenou a abertura de 19 fossas segundo os 43 relatos enviados pelos activistas das associações de familiares.

Desde este Outono que o Governo de Andaluzia aquiesceu e ordenou a exumação da fossa onde se pensa estar os restos mortais de Garcia Lorca. Os arqueólogos ainda não encontraram vestígios do seu corpo, mas outros foram encontrados.

Pela memória histórica temos de restituir às vítimas as suas identidades e possibilitar aos seus familiares que os enterrem com dignidade.

Passados quase 70 anos sobre a guerra civil espanhola é evidente que não se trata aqui dum ajuste de contas ou de vingança, pois quase todos os intervenientes já estão mortos. Mas os governos democráticos aqui incluo o português devem promover e divulgar o estudo sem tabus da história contemporânea.

A pressão cada vez maior das forças do saudosismo nacionalista e obscurantista leva ao regresso do medo de falar e de tomar atitudes progressistas frontais nos empregos e na rua.