sexta-feira, 31 de agosto de 2012

CINEMA Sambizanga 1972 filme pt/eng sub HIKORE KUDUROPEDIA


THE TAINTED MILK OF HUMAN KINDNESS


The tainted milk of human kindness*
(O leite envenenado da ternura humana)

Parafraseando Lady Macbeth em Macbeth, 1º ato, cena 5 
«It is too full of the milk of human kindness
To catch the nearest way…»

 

Pediatras e biologistas de um hospital Sul-africano defrontaram-se com o desafio de determinar o modo de contaminação pelo HIV dum bebé de 2 meses e meio, alimentado exclusivamente ao leite materno cuja a mãe era seronegativa.
Neste caso, bem ao modo do Dr. House, a colheita de uma boa história clinica foi fundamental para se chegar ao modo de transmissão do vírus.
A primeira ideia que surge é da contaminação por material não esterilizado, frequente em países africanos ou do efeito janela, etc.. Eu tratei um caso semelhante, filho de três meses seropositivo de mãe seronegativa. Tinha sido transferido de Angola suspeitou -se de transmissão por material contaminado (agulhas das vacinas).
Mas este não foi o caso do pequeno sul-africano.
Uma boa anamnese permitiu rapidamente suspeitar da transmissão do vírus pelo leite, não pelo da mãe mas sim por uma tia. Com efeito esta tinha aleitado, algumas vezes, o bebé a seguir à sexta
semana. Posteriormente confirmou-se a seropositividade da tia, assim como do seu próprio filho. Foi bem o leite envenenado da ternura.
O modo de contaminação foi comprovado laboratorialmente na Africa do Sul e também por uma equipa de virologistas em Londres
Os autores referem que o aleitamento partilhado é uma prática que não é excecional na Africa do Sul e estima - se em 1% segundo algumas fontes.
Apesar de nunca ter vivido em Africa diria que é também muito usual em Angola e provavelmente em muitas outras regiões africanas, onde infelizmente graça a Sida.
Este caso muito bem documentado alerta-nos para os perigos dos aleitamentos partilhados e da necessidade sempre de uma história clínica cuidadosa e de um conhecimento da vida para além dos livros de Medicina.
 
Ao ler este case report, veio-me à memória um filme lindíssimo, Sambizanga, que vi em Lausanne. Aqui também durante a viagem de regresso a Luanda da atriz principal depois de procurar o paradeiro do seu marido, militante do MPLA, assassinado na sede da PIDE, o seu filho era amamentado por outra negra que vinha no mesmo transporte.
Achei na altura uma cena comovente de solidariedade, mas estávamos em 1972 e ninguém pensava no vírus da sida.
 
Publicarei em breve o filme que vale a pena ver mesmo na net.

*Goedhals D e coll: The tainted milk of human kindness. Lancet 2012; 380:702

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

SERVIÇOS DE UTILIDADE PUBLICA


SERVIÇOS DE UTILIDADE PUBLICA

 

Não há comentador, jornalista, ministro, secretário de estado ou assessor, melhor ou pior pago, que não fale de serviço público. Para baralhar mais o Conselheiro, já alguém lhe chamou o Deng Xiao Ping português, porque a exemplo deste não pertence ao governo, nem ao Partido mas manda no país, disse perante as câmaras da TVI, que se pode vender a RTP e ela continuar a ser Serviço de Utilidade Pública.

Pasme – se o grupo capitalista que comprar este canal de televisão, baratinho (pois está cheio de dívidas!) não irá lucrar em nada; pois terá que continuar a fornecer um serviço económico e tablado para todos os portugueses do continente e ilhas adjacentes. 

 Regressemos quatrocentos anos para trás, ao reinado de Jaime de Inglaterra. Nessa época foi fundada a cidade de Jamestown e um grande descontentamento manifestou-se entre os viajantes que tinham de atravessar os rios em barcaças. Os barqueiros tinham uma posição privilegiada e exigiam direitos abusivos. Mau serviço e tarifas elevadas fizeram que muitos viajantes arriscassem, correndo muitos perigos, passar a nado ou fossem obrigados a grandes desvios.

Estes passadores ganharam durante anos muito dinheiro o que se tornou um escândalo público até que Lord Hale ( 1609 -1676) estabeleceu um regulamento de policia, que determinava  a profissão de passador  diferente das outras. Pois esta revestia-se de um caracter público, e que impor tarifas excessivas era contrário ao interesse geral. “ Cada barcaça devia ser submetida a um regulamento, a saber: assegurar um serviço continuo com um barco em bom estado por meio de uma portagem razoável”.

Em poucas palavras este Lord, contemporâneo de Shakespeare, definiu o serviço de utilidade pública.
Até aos nossos dias muitos outros serviços juntaram-se à passagem do rio e à lista das utilidades públicas: transportes, distribuição de água, saneamento básico, gaz, eletricidade, rádio e televisão. 

Ao nosso governo compete como fez Lord Hale publicar normas que defendam o povo e imponham tarifas razoáveis aos bens de interesse público. As riquezas naturais de um país, como a água, as barragens, em suma as forças hidro elétricas pertencem ao povo e compete aos governantes controlá-las.

Esta história da história vem contada no livro, de Franklin Roosevelt, Looking Forward,* no capitulo VIII que termina com o seguinte texto:- “ O governo federal não abandonará nunca a sua soberania e o seu direito de controlo sobre os recursos naturais do país, enquanto for Presidente dos Estados Unidos”.

*Livro que aconselho vivamente a leitura aos nossos governantes

 

III GUERRA MUNDIAL



A III Guerra Mundial

“...e os alemães e os seus canhões.”

da canção João e Maria, de Chico Buarque

 

O acaso levou-me a um livro de Georges Valois, Le Cheval de Troie – Réflexions sur la philosophie et sur La Conduite de la Guerre, escrito em 10 de Dezembro de 1917, no 4º ano da I Guerra Mundial, e editado pela Nouvelle Libraire Nationale (2ª ed. de 1918) em Paris. 

Georges Valois (1878 - 1945) foi um pensador e politico francês que previu uma nova forma de organização económica e social na base dos valores nacionalistas e do reformismo social, o que o levou ao longo da sua vida a tomar posições radicais de direita e de esquerda.

Foi capturado a 18 de Maio de 1944, no hotel d'Ardières, pela Gestapo e morreu de tifo, em Fevereiro de 1945, no campo de concentração nazi de Bergen – Belsen. Neste campo também morreram, no mesmo ano, Anne Frank e a sua irmã. 

O livro Le Cheval de Troie é um panegirico contra a Alemanha. Além disso, no capítulo sobre a conduta da guerra, propõe uma reforma completa do exército e prevê a vitória das forças aliadas pela utilização dos tanques, a que ele chama o Cavalo de Troia.
Valois ao escrever este livro não antevia, embora escreva que a União da Alemanha seria sempre um perigo para a Europa, uma II Guerra Mundial ainda mais mortífera que a primeira. 

O que me leva a partilhar convosco a leitura deste livro não é com certeza a condução da guerra (La Conduite de la Guerre) com a entrada dos tanques, o Cavalo de Troia.
Valois sempre defendeu a utilização desta arma, mas foi o exército inglês que a usou, atravessando em segredo a linha Hindenburg com 150 a 200 tanques de guerra, no dia 20 de Novembro de 1917.
Este dia marcou uma viragem no destino da guerra, até lá a frente alemã tinha sido inviolável.
O resto da história todos a conhecem: a vitória dos aliados e a assinatura do tratado de Versalhes, com todas as consequências para a Alemanha 

Há várias curiosidades neste livro e uma delas é ter sido publicado com várias páginas censuradas, estava-se em plena guerra…( ver acima) 

Na introdução, o autor faz várias reflexões filosóficas, entre elas conta que em 1914 a França oficial (la France officielle) acreditava que o homem prosseguia o seu caminho na via do progresso e estava sobre o ponto de conquistar o poder de comandar a guerra e expulsá-la do planeta.

A Grande Guerra, segundo Valois, não é contra a Alemanha mas sim contra a Deutsche Kultur. Insurge-se contra aqueles que pensam que a guerra é entre a democracia e a autocracia e que o problema ficaria resolvido com o aparecimento da democracia na Alemanha.

Escreve: “ Qu'elle soit autocratique, aristocratique ou démocratique, l'Allemagne unie demeurera le lieu du monde où les philosophes ont identifié les destinées de la civilisation et les destinées d'une nation”, citando aqui a análise de Emile Boutroux  (prefácio da obra de Santayana, L'Erreur de la Philosophie allemande,1917): “ Le monde doit, dans toutes ses parties, être artificiellement organisé et qu'il appartient à l'Allemagne, et à la elle seule, d'effectuer cette organisation”.

Apoiado nestas ideias, o autor é frontalmente contra a assinatura de uma “paix blanche”, quer dizer sem a destruição do exército, do império alemão e da dominação da Deutsche Kultur.

A Alemanha, nesta data, avançava com a proposta de paz sem anexações nem indeminizações. George Valois teme essa ideia e diz: ” Une impulsion unique, venue de Berlin, organisant l'Europe, puis la planète, conformément au plan allemand, à l'humeur allemande, à la science allemande, à la mystique allemande, soumettant les hommes aux conducteurs allemands, disloquerait l'humanité en moins d'un demi-siecle, et provoquerait l'ecroulement de la civilisation. Tout serait à recommencer.”

Palavras proféticas, 20 e tal anos mais tarde surgem Hitler, o nacional-socialismo e as teses da superioridade ariana. O que não imaginava o autor é que a sua vida acabaria num campo de concentração nazi.

Outra crítica do autor à intelligentzia francesa é que esta não acreditava, em 1914, na possibilidade de uma guerra entre a França e a Alemanha, nem sequer entre as nações civilizadas. “ La guerre, pensait-il, c'est le fait des nations barbares; nous autres civilisés, nous avons la lutte, la lutte économique”, “ Se peut-il que, dans notre siècle de haute civilisation, la guerre soit possible?”

Sim, foi possível, e foram muitas durante o século XX. Será que só agora, na entrada do século XXI, a guerra ou a luta passa a ser apenas económica, como diziam os dirigentes franceses em 1914?

Será que o fascínio do povo alemão pelo Deutsch Kultur, a constituição da Mittel-Europa e o Império Alemão já não existe?

A Alemanha atual quer seguramente uma Europa forte, com uma moeda forte que confronte o império americano e o asiático. Para isso abriu as fronteiras a leste e irá fazer de novo o pacto germano-soviético, digo russo, considerando os povos do sul seus inferiores.

Como dizia Georges Valois: - a organização do mundo será feita à semelhança da Alemanha e cabe a ela, e só a ela, efetuá-la.

 

 

 


 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Foto: O PERIGO DO RACISMO

A Foto: O PERIGO DO RACISMO: Las mentiras del poder: Racismo puro É preciso combater todas as formas de racismo