segunda-feira, 27 de agosto de 2012

III GUERRA MUNDIAL



A III Guerra Mundial

“...e os alemães e os seus canhões.”

da canção João e Maria, de Chico Buarque

 

O acaso levou-me a um livro de Georges Valois, Le Cheval de Troie – Réflexions sur la philosophie et sur La Conduite de la Guerre, escrito em 10 de Dezembro de 1917, no 4º ano da I Guerra Mundial, e editado pela Nouvelle Libraire Nationale (2ª ed. de 1918) em Paris. 

Georges Valois (1878 - 1945) foi um pensador e politico francês que previu uma nova forma de organização económica e social na base dos valores nacionalistas e do reformismo social, o que o levou ao longo da sua vida a tomar posições radicais de direita e de esquerda.

Foi capturado a 18 de Maio de 1944, no hotel d'Ardières, pela Gestapo e morreu de tifo, em Fevereiro de 1945, no campo de concentração nazi de Bergen – Belsen. Neste campo também morreram, no mesmo ano, Anne Frank e a sua irmã. 

O livro Le Cheval de Troie é um panegirico contra a Alemanha. Além disso, no capítulo sobre a conduta da guerra, propõe uma reforma completa do exército e prevê a vitória das forças aliadas pela utilização dos tanques, a que ele chama o Cavalo de Troia.
Valois ao escrever este livro não antevia, embora escreva que a União da Alemanha seria sempre um perigo para a Europa, uma II Guerra Mundial ainda mais mortífera que a primeira. 

O que me leva a partilhar convosco a leitura deste livro não é com certeza a condução da guerra (La Conduite de la Guerre) com a entrada dos tanques, o Cavalo de Troia.
Valois sempre defendeu a utilização desta arma, mas foi o exército inglês que a usou, atravessando em segredo a linha Hindenburg com 150 a 200 tanques de guerra, no dia 20 de Novembro de 1917.
Este dia marcou uma viragem no destino da guerra, até lá a frente alemã tinha sido inviolável.
O resto da história todos a conhecem: a vitória dos aliados e a assinatura do tratado de Versalhes, com todas as consequências para a Alemanha 

Há várias curiosidades neste livro e uma delas é ter sido publicado com várias páginas censuradas, estava-se em plena guerra…( ver acima) 

Na introdução, o autor faz várias reflexões filosóficas, entre elas conta que em 1914 a França oficial (la France officielle) acreditava que o homem prosseguia o seu caminho na via do progresso e estava sobre o ponto de conquistar o poder de comandar a guerra e expulsá-la do planeta.

A Grande Guerra, segundo Valois, não é contra a Alemanha mas sim contra a Deutsche Kultur. Insurge-se contra aqueles que pensam que a guerra é entre a democracia e a autocracia e que o problema ficaria resolvido com o aparecimento da democracia na Alemanha.

Escreve: “ Qu'elle soit autocratique, aristocratique ou démocratique, l'Allemagne unie demeurera le lieu du monde où les philosophes ont identifié les destinées de la civilisation et les destinées d'une nation”, citando aqui a análise de Emile Boutroux  (prefácio da obra de Santayana, L'Erreur de la Philosophie allemande,1917): “ Le monde doit, dans toutes ses parties, être artificiellement organisé et qu'il appartient à l'Allemagne, et à la elle seule, d'effectuer cette organisation”.

Apoiado nestas ideias, o autor é frontalmente contra a assinatura de uma “paix blanche”, quer dizer sem a destruição do exército, do império alemão e da dominação da Deutsche Kultur.

A Alemanha, nesta data, avançava com a proposta de paz sem anexações nem indeminizações. George Valois teme essa ideia e diz: ” Une impulsion unique, venue de Berlin, organisant l'Europe, puis la planète, conformément au plan allemand, à l'humeur allemande, à la science allemande, à la mystique allemande, soumettant les hommes aux conducteurs allemands, disloquerait l'humanité en moins d'un demi-siecle, et provoquerait l'ecroulement de la civilisation. Tout serait à recommencer.”

Palavras proféticas, 20 e tal anos mais tarde surgem Hitler, o nacional-socialismo e as teses da superioridade ariana. O que não imaginava o autor é que a sua vida acabaria num campo de concentração nazi.

Outra crítica do autor à intelligentzia francesa é que esta não acreditava, em 1914, na possibilidade de uma guerra entre a França e a Alemanha, nem sequer entre as nações civilizadas. “ La guerre, pensait-il, c'est le fait des nations barbares; nous autres civilisés, nous avons la lutte, la lutte économique”, “ Se peut-il que, dans notre siècle de haute civilisation, la guerre soit possible?”

Sim, foi possível, e foram muitas durante o século XX. Será que só agora, na entrada do século XXI, a guerra ou a luta passa a ser apenas económica, como diziam os dirigentes franceses em 1914?

Será que o fascínio do povo alemão pelo Deutsch Kultur, a constituição da Mittel-Europa e o Império Alemão já não existe?

A Alemanha atual quer seguramente uma Europa forte, com uma moeda forte que confronte o império americano e o asiático. Para isso abriu as fronteiras a leste e irá fazer de novo o pacto germano-soviético, digo russo, considerando os povos do sul seus inferiores.

Como dizia Georges Valois: - a organização do mundo será feita à semelhança da Alemanha e cabe a ela, e só a ela, efetuá-la.

 

 

 


 

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