sexta-feira, 4 de março de 2011

A revolta no Levante

A extensão à Libia da revolta no Mundo Árabe, tem colocado vários problemas quer aos comentadores de Direita, pelas boas relações que mantinham recentemente com o regímen de Kadafi , quer pelos comentadores da esquerda pelo seu passado.


Fidel de Castro em 2 de Março de 2011, num artigo publicado pela ARGENPRESS.INFO diz:-A diferencia de lo que ocurre en Egipto y Túnez, Libia ocupa el primer lugar en el Índice de Desarrollo Humano de África y tiene la más alta esperanza de vida del Continente. La educación y la salud reciben especial atención del Estado. El nivel cultural de su población es sin dudas más alto. Sus problemas son de otro carácter. La población no carecía de alimentos y servicios sociales indispensables. El país requería abundante fuerza de trabajo extranjera para llevar a cabo ambiciosos planes de producción y desarrollo social. Ao mesmo tempo alerta para o perigo eminente das tropas da NATO, instigada pelos Estados Unidos, invadirem a Líbia e tomarem conta das suas riquezas:- o petróleo e o gás natural.
Aliás coincidência ou não as primeiras zonas libertadas na Cirenaica ( Bengazi) são as zonas do país mais ricas em petróleo.

O fim da II Guerra Mundial com o triunfo sobre o nazi-fascismo abriu novas esperanças a uma parte da humanidade que até aí estava excluída do progresso e da democracia com participação popular.
Surge a Republica Popular da China em 1949 e o triunfo da Revolução Cubana dez anos depois. Nasce o conceito de Terceiro Mundo, com a Liga Árabe, a Organização de Unidade Africana e o Movimento dos Países Não Alinhados ( 1955)
Aparecem novos líderes nacionalistas que iniciam uma grande batalha para a libertação nacional, a independência, a revolução, a democracia e o socialismo.
Nasceu então o conceito do socialismo árabe e do pan- arabismo de que Gamal Abdel Nasser ( 1918 a 1970), no Egipto, foi o expoente máximo ( ainda hoje venerado, no mundo árabe) seguido por Bem Bella, na Argélia e Habib Burguiba, na Tunísia.
Kadafi, na Líbia inspira-se nestes ideais e avança para a constituição de um estado moderno de orientação socialista, com base no poder popular, ultrapassando os limites impostos pelo tribalismo.
Depois de muitos anos no poder (42 anos) paulatinamente desmente-se, faz concessões e abre as portas à corrupção.
Em 1977, proclama a "Jamahiriya", que define a Líbia como um "Estado de massas" que ele governa através de comitês populares eleitos, atribuindo a si o título de "Guia da Revolução".
A loucura toma conta do líder/ ditador renuncia à ideia de governar uma república com instituições e cria a Al-Jamahiriyya al-‘Arabiyya al-Libiyya ash-Sha«biyya al-Ishtirakiyya al-Úzma, um país com um nome impronunciável, sem parlamento, sem leis governado hoje por uma arcaica estrutura de poder baseada no tribalismo e nas oligarquias familiares.

Estas últimas atitudes do Ditador Libio fazem - me lembrar Nicolae Ceauşescu, na Roménia que no fim do seu mandato apelidou-se de “ O Grande Caçador”.

Devido ao insucesso das formas de democracia ocidental e liberal muitas vezes considerada património da burguesia, muitos de nós na esquerda acreditámos que a mudança nestes países era um achado próprio da cultura árabe, quando na realidade tratava-se de uma mudança pior que o califato e mais insólito que os estados teocráticos e que agora se retrata no caos do tribalismo e do nepotismo.

Coloca-se de novo à reflexão da esquerda a pergunta: -Justifica-se sacrificar a LIBERDADE para tirar um país do atraso e da miséria? Os exemplos recentes da História dizem nos que não.
Kadafi deve ser julgado pelo estado a que conduziu a Líbia e o seu povo e não pelas suas intenções iniciais.

Ninguém desdiz que os imperialistas trabalharam incansavelmente durante décadas para acabar com os projectos revolucionários nascidos com a descolonização, mas também é certo que estes deram o flanco e lhes abriram as portas. A corrupção, os erros e o nepotismo puseram fim a uma etapa histórica que podia ter catapultado o mundo árabe no cume da civilização mas terminou mal.

Agora, aos olhos da Europa e dos Estados Unidos, Kadafi só tem defeitos e longe vão os dias em que todos os líderes ocidentais, sem excepção, beijavam a mão do Ditador; os empresários faziam negócios em Tripoli e os bancos principalmente italianos e alemães se enchiam dos depósitos feitos por funcionários líbios, parentes da família governante e elementos afins.

O Estados Unidos com ou sem aliados preparam-se para tomar conta da oitava reserva petrolífera mundial. O cerco está prestes a terminar.
A única oportunidade para os povos do Levante está na inovação, rompendo com Ben Ali, Mubarak e Kadafi mas também com a “ajuda” das tropas da NATO que já se mobilizou para dar aos povos árabes o beijo de Judas.
Dizem que os novos dirigentes instalados na Cirenaica, não querem armas, nem conselhos nem intervenção estrangeira. Oxalá assim seja.

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