terça-feira, 10 de abril de 2018



10 de Abril de 1911, nasce na Maia, o meu pai Abílio da Costa Mendes.
10 de Abril de 1965, passo a salto a fronteira, perto de Figueira de Castelo Rodrigo.
São duas datas importantes.
Esta foto mostra uma paragem de repouso num camping.
Todos os anos, os meus pais, vinham visitar-me em caravana, à Suiça..

Em sua homenagem, publico um dos vários textos de divulgação médica que escreveu, sempre no intuito de ajudar os pais na sua função de educadores.


A CRIANÇA
PRIMEIRAS NOTAS

No dia a dia da criança tudo se programou em horas de trabalho e de repouso: em permanente actividade neuro-muscular quando acordada e em relaxamento ou recuperação mnésica quando dorme.
A criança dos nossos dias dorme menos durante o dia solar e,portanto, a sua aprendizagem ou o período informativo é mais longo.
Firmada já nos sistemas nervosos a boa limitação dos seus movimentos voluntários, esboça também propósitos intencionais de preensão dos objectos, levando-os à boca e de mão para mão, agitando-os de modo a ouvir neles ruídos mais ou menos musicais. Deixou de os introduzir furiosamente na boca até ao engasgamento e à maneira que ordena a posse e os movimentos até aqui atrabiliários inicia a definição da sua individualidade. Segura avaramente os brinquedos marcando o seu direito de propriedade. 
A linguagem vai ter inicio com o balbuceio continuo de monossílabos até definir, como os primitivos, as primeiras palavras onde a entoação ajudará a completar a escassês de vocábulos. Ma..ma, pa..pa, compõem as primeiras notas de uma canção inacabada. Logo depois, aprende que uma e outra formam as palavras figurativas de Mãe e Pai. Aqui, ainda como nos primitivos, estas sílabas representarão, a um tempo, todas as mulheres semelhantes à Mãe e todos os homens semelhantes ao Pai. Cedo apontará com o indicador uma Mãe e um Pai. Embora o conceito de tudo quanto define os seus progenitores esteja traduzido numa atitude bem marcada de se inclinar francamente para um e outro, logo que no ambiente familiar componham o quadro diverso de avós, pais e irmãos, etc.,estes rudimentares vocábulos representarão, durante alguns meses, mais de uma mulher e mais de um homem.

No programa estabelecido à criança desde recém-nascido, procuramos vincar a necessidade de respeitar os intervalos digestivos e, com menos importância, o intervalo reparador do sono.
Cedo, a partir do 6º mês, evitamos as refeições da noite. É durante a vagotonia do sono, isto é, no predomínio deste sector do sistema vagosimpático que as células se refazem da tarefa quotidiana e as funções digestivas diminuem a sua actividade consideravelmente.E se assim é, vale mais dormir do que comer. Ao despertar, principia a predominância do sector simpaticotónico e todas as actividades digestivas e emunctórias entrarão no seu máximo rendimento.
É boa norma ingerir no jejum um pouco de água e a partir dos seis meses ensinar a criança a controlar os seus esfíncteres Bastará para isso, ao iniciar a sua higiene física, procurar diariamente ensiná-la, após a mudança das fraldas, a evacuar na posição sentada. A enurese será mais tarde evitada, deixando de constituir mais tarde um trauma psíquico de embaraçosa solução e tão presente na biografia dos grandes homens.
Quando do sexto ao oitavo mês a criança se senta é o indicativo de que estão definidas as suas relações com os objectos circundantes e o seu equilíbrio é perfeito. Fá-lo-à por conta própria e sem apoio de almofadas. Exercitando-se em pavimentos macios, as almofadas apenas servem para lhe aliviar o choque e nunca jungidas ao tronco, pois a criança,encostando-se em apoio acabará por deformar a sua coluna. Tarde ou cedo virá a cifose ou escoliose embora ligeiramente.

O dedo polegar, que desde  o primeiro trimestre serviu a saciedade afectiva do bebé numa sucção extasiante, vai no segundo semestre entrar no treino da preensão e oponência, marcando assim uma função nova no seio dos primatas. Não será este prazer frenético que o levará a deformações do intermaxilar; quando muito ao emagrecimento do seu dedo.Outrossim acontece mais frequentemente com a detestável chupeta de borracha que, num mastigar e estiraçar intermitentes, fará pelo menos avançar os incisivos superiores e recuar os inferiores. Neste desalinhamento fatal a razão da sua fragilidade e próxima fractura. A chupeta é-lhe oferecida, embora no mais inocente dos propósitos; porém, o dedo irá sempre à boca da criança, de evolução normal, como enriquecimento dos seus registos sensoriais.
Agora o polegar apreende e exibe ruídos musicais nos objectos de borracha; adiante agarra-os veemente num desejo imperioso de posse que se não deve contrariar. Aqui a criança não representará egoísmo, mas o direito à propriedade.
Caberá ao seu educador muito tempo depois, noutra idade psicológica, ensiná-lo a dar os primeiros gestos no sentido do altruísmo. Como seria útil nas festas da CNE* levar as crianças a oferecerem-se os seus brinquedos e prendas!

Este texto foi escrito em Junho de 1967

* Companhia Nacional de Electricidade


Sem comentários:

Enviar um comentário