Coronavirus
O termo quarentena foi utilizado a primeira vez em Veneza, no ano de 1127 durante uma epidemia de lepra. Nessa altura os leprosos eram obrigados a usar um sino preso ao artelho para alertar as pessoas da sua passagem.
Esta forma de isolamento foi em seguida largamente retomada no decorrer de outras epidemias como a peste negra e da cólera. Quem não se lembra do excelente filme de Visconti, baseado no livro de Thomas Mann, Morte em Veneza, em que os turistas estavam confinados à praia de Lido di Jesolo.
Mais recentemente em 2014 assistimos ao isolamento de aldeias inteiras em África durante a epidemia do Ebola.
Esta palavra hoje está associada ao vírus COVID-19 que colocou em quarentena em todo o planeta pessoas que estiveram em contacto com a infecção.
Este isolamento pode ser uma experiência negativa para aqueles que estarão sujeitos.
Assim, uma equipa de investigadores ingleses fizeram uma meta analise de trabalhos publicados (24 artigos) sobre o impacto psicológico da quarentena, em domicilio ou em estabelecimentos.
Estes trabalhos evidenciaram sinais de stress pós traumático e que podem atingir uma em cada 4 pessoas segundo alguns estudos.A depressão, o stress, a tristeza, irritabilidade, perturbações do sono, esgotamento emocional foram frequentemente relatados.
A gravidade está em que muitos destes sintomas foram constatados passados 3 anos após o isolamento. Estudos realizados com profissionais de saúde, depois de estarem em quarentena, mostraram condutas de evitar o contacto com doentes ou mesmo de permanência no local de trabalho.
Factores agravantes foram identificados, como a duração da quarentena: mais de 10 dias o risco é mais elevado. Outros factores podem estar associados ao medo das infecções, frustração e aborrecimento ligado ao confinamento, abastecimentos insuficientes ( alimentação, água, roupa,etc.) e uma informação desadaptada ( uma falta de clareza de os riscos corridos leva as pessoas a temer o pior). Alguns queixaram-se mesmo de um certo estigma de que foram alvo por parte da sua entourage mais próxima.
A duração possível destas perturbações justifica certas precauções.
Para os autores, se a medida da quarentena é julgada necessária, a experiência deve ser o menos traumatizante possível.
E dão algumas sugestões: - Fixar a quarentena no período mais curto possível e explicar às pessoas implicadas a natureza dos riscos e as razões da medida de confinamento. As autoridades sanitárias devem assegurar-se que às pessoas isoladas no seu domicilio não lhes falta nada e sejam reabastecidas de alimentos o mais rapidamente possível em caso de necessidade. Conselhos para combater o aborrecimento podem ser necessários para certas pessoas, e assegurar os meios de melhorar as comunicações à distância. Para os autores reforçar a ideia que a quarentena e que o seu confinamento é benéfico para a saúde de outros pode favorecer o sentimento de altruísmo e melhorar a aceitação do isolamento
Por este e outros factos deve-se ponderar os prós e contras antes de decidir um confinamento em massa de uma comunidade.
Referência
Brooks SK. e coll.: The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence.Lancet 2020
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