Felizmente há SERVIÇO NACIONAL DE SAUDE
Uma das grandes conquistas do 25 de Abril e do Estado Social
é o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Apesar dos ataques constantes das forças neoconservadoras,
ele aguenta, aguenta, aguenta! (parafraseando o banqueiro Ulrich).
O SNS tem sido o melhor e mais efetivo garante da equidade em
saúde, mesmo com a instauração e aumento dos co - pagamentos, vulgo taxas
moderadoras, agora exigidos e aumentados.
Como já escrevi, várias vezes, o mercado não consegue
garantir um equilíbrio de oferta e procura dos serviços médicos sem produzir a
exclusão. O exemplo mais flagrante é o sistema adoptado nos Estados Unidos que
apesar da reforma tímida de Obama, a chamada Obamacare, exclui do seu
sistema de saúde mais de 48 milhões de norte-americanos.
Quando escrevia este post, um amigo enviou-me por mail a
carta/desabafo do colega neurologista de Coimbra Carlos Manuel Costa Leite,
publicada em <http://www.facebook.com/c.m.costa.almeida>
A carta relata, pormenorizadamente, a assistência prestada
nos hospitais do SNS, em Coimbra, a um cidadão britânico, a residir
temporariamente em Portugal, que teve um acidente vascular cerebral. A melhor
assistência foi prestada e o doente teve alta. Contudo, durante os exames efectuados,
foi-lhe detetada uma estenose significativa da carótida esquerda. O médico
propôs a intervenção cirúrgica e perguntou-lhe se preferia ser operado em
Inglaterra, sua terra natal.
Ele respondeu:“ Doutor, eu tive um AVC e ao fim de meia hora
estava a ser tratado...No meu país isto não seria possível!...É neste hospital
que eu quero ser operado”.
E assim foi, tudo correu bem e não estavam lá as câmaras das
televisões. Evidentemente, não se tratava do Eusébio, nem o Hospital era privado.
Quando se despediu
disse: ”(…) You know, if I lived in my country I would be dead know. Portugal
saved my life. Obrigado”.
Casos como este existem vários, como o transplante hepático
realizado ao realizador de cinema chileno Raul Ruiz, pela equipa do Dr. Eduardo
Barroso no hospital Curry Cabral, com sucesso. O transplante tinha sido
recusado em França, país onde vivia, por já ter 69 anos (o que pretendem agora
impor em Portugal, vidê parecer da Comissão Nacional de Ética Para as Ciências
da Vida). Infelizmente, o cineasta veio a falecer mais tarde num hospital
francês devido a uma bactéria hospitalar, resistente aos antibióticos. Mas foi
devido ao transplante efectuado em Portugal, que Raul Ruiz quase terminou a obra
de arte que tinha em mãos, o filme “As linhas de Wellington”.
Graças à dedicação dos profissionais de saúde, à sua organização
e ao financiamento do SNS através de impostos, numa perspectiva de solidariedade
social, a situação do nosso povo perante a enorme crise financeira não é ainda tão
dramática como em outros países e esperemos que atempadamente se mude de política senão rapidamente estaremos como a Grécia.
Neste exemplo, paradigmático, vemos como as políticas
neoliberais, que têm inscrito no seu código genético a destruição do estado
social, acabaram com o National Health Service, criado em 1948 e foram o orgulho
de gerações de britânicos. Aqui bastou a conservadora Thatcher e o neoliberal
Blair, com reestruturações e refundações, para terminarem os serviços e a
assistência às populações.
O nosso Serviço Nacional de Saúde foi criado, em 1979, à semelhança do
inglês, e tenho esperanças que os nossos neo - conservadores facciosos não o
consigam destruir. Contudo, assistimos, como um filme de “reprise”, às mesmas
medidas aplicadas na Grã-Bretanha: reestruturações, fusões, encerramentos, e
além disso às tentativas de destruição do maior trunfo do SNS - as carreiras médicas. Que ainda resistem graças à luta dos médicos e das suas estruturas representantivas.
Também Pinochet, influenciado pelos “chicagos boys”, destruiu o SNS chileno plasmado na Constituição de
1925.
Vejamos agora o que nos chega de Espanha: a mesma luta na
defesa e resistência à destruição dos hospitais públicos. Os ventos da Grécia
trazem igualmente notícias terríveis, com os hospitais públicos a serem destruídos,
sem dinheiro e sem hipótese de cuidar dos seus doentes. Os desempregados, que
não descontam para a segurança social, são excluídos e abandonados à caridade.
As ONG locais, criadas para cuidar de emigrantes ilegais e
refugiados, estão cada vez mais assoberbadas por cidadãos helénicos.
Os franceses, que até há pouco tempo pensavam ter o melhor
sistema de saúde do mundo, com esta crise isso tornou-se uma ilusão distante. O
financiamento pela segurança social e a mutualidade originou também a exclusão
dos desempregados na França.
Aliás, era esse modelo que muitos queriam para nós,
contrapondo o financiamento do SNS pelos impostos, nos idos anos setenta e
oitenta, com medo da proletarização dos médicos.
O dossier especial da revista Marianne, nº 811, novembro 2012, com o titulo France ta santé fout le camp!, observa que neste momento há “um
sistema que se degrada, doentes, que, à falta de meios financeiros, renunciam a
tratar-se, a desigualdade de acesso aos cuidados entre as zonas rurais e as
grandes metrópoles”. E acrescenta, “o prognóstico vital do modelo francês de
saúde está comprometido”.
Em Portugal ainda temos um SNS prestigiado em toda a Europa
com enormes ganhos em saúde em muitos sectores. Precisamos de proteger o sistema e não
inventarmos reestruturações e fusões sem qualquer estudo prévio sério.
Podem crer senhores governantes neoliberais: sem o SNS, sem o
Serviço Publico, o drama dos nossos compatriotas atingidos pela crise financeira
seria muito maior. A saúde de uma população não se resolve com a caridade das
igrejas, dos bancos alimentares e das Misericórdias. Já não estamos na Idade
Média.
A continuar assim, com consultas low-cost no Pingo Doce, misturando alhos e batatas com cuidados de
saúde, a qualidade da saúde prestada à população irá baixar. Pois o objectivo do" merceeiro" dono do Pingo Doce é o lucro e nestas consultas só o poderá obter
pela quantidade.
Não podemos regressar às famigeradas consultas das "caixas", de
má memória, em que se compensava o mau pagamento pela quantidade de doentes
observados e obviamente com o prejuízo da qualidade dos cuidados prestados.
·
Como já vaticinei, esta equipa do Ministério da
Saúde vai ficar na história como os coveiros do Serviço Nacional de Saúde e
para isto basta ler os títulos dos jornais do dia 26 de Novembro. Escolhendo ao
acaso pode ler-se que “ 2013 é o último
ano em que haverá vagas para todos os candidatos à especialidade no SNS. Se não fosse a greve dos médicos seria já
neste ano que médicos ficariam sem formação”.
·
Consultórios privados fecham e juntam-se a
grupos económicos. Surgem consultas low-cost tendo sido o precursor o "grupo Trofa Saúde" no Norte com ofertas deste tipo nas urgências ( o mesmo grupo que provocou o encerramento do Hospital Particular de Lisboa e ficou a dever milhares de euros aos seus funcionários), no
Pingo Doce e Hospital da Cruz Vermelha. Grupo brasileiro compra os
estabelecimentos de saúde da Caixa Geral de Depósitos, entre os quais o
Hospital de Cascais, parceria publico privada (é a velha luta entre supermercados e mercearias).
·
Hospitais Privados como a CUF Descobertas,
Infante Santo e o Hospital da Luz passam a ter idoneidade (quem lhes deu?), com vagas em imunoalergologia, otorrino, medicina
interna ou medicina nuclear.
·
Portugueses cortam nos seguros e aqueles com
mais de 65 anos estão excluídos.
Só esta última noticia não é muito favorável à destruição do
SNS, mas, tant pis, que se lixe.
Não é verdade que quem quer saúde que a PAGUE?
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