O APOLITICO
“Eu cá sou
apolítico”, esta é uma das frases que se ouve recorrentemente na rua, no
emprego ou em conversas de café.
Então tu não
votas? Não a minha política é o trabalho.
Outra afirmação
ignorante que parece ter-se generalizado.
Ao termo apolítico
está intimamente ligado o de “buro-tecnocrata”, situação muito defendida por
profissionais que trabalham para o Estado e não só.
- “Tu aqui só
deves dar o teu parecer técnico a decisão política compete ao ministro”, isto
diz-se nas Direcções-Gerais e outros departamentos de Estado.
Como se um
parecer técnico, que a maioria das vezes mexe com a vida das populações, não
tivesse nada de política.
-“Tudo é
político e todos nós temos ideias que devemos manifestá-las para conquistarmos
mais liberdade e mais justiça e combater a ignorância”. Estas eram palavras
pertencentes ao léxico dos militantes dos partidos de esquerda no seu trabalho
de esclarecimento às populações.
Os mídias de grande divulgação, agora nas
mãos de grandes grupos capitalistas, fizeram com muito mais eficiência o
trabalho contrário. Os políticos são corruptos, são todos iguais, estão lá só
para se encherem.
“O governo do
país devia ser entregue aos técnicos”; os jovens formados pelos Partidos não
conhecem a vida”, são frases que as nossas televisões transmitem sem cessar. O
último representante desse animal buro-tecnocrático foi o ministro Gaspar e
vejam o que aconteceu, os números não batiam certo, faz um mea culpa e regressou ao Banco de Portugal como um verdadeiro
manga-de-alpaca.
Aqueles que
dizem ser apolíticos, não são mais que biltres de ideologia reacionária. É
nossa obrigação continuar a esclarecer que essa inverdade, só se foram apessoas (não pessoas) e, como dizíamos
nos anos 60 e 70, todos pensamos e temos ideias politicas e temos a obrigação
de manifestá-las para combater a inercia e a ignorância.
Sabiamente,
Bertolt Brecht afirmava: - “O pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do
peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões
políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito
dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância
política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os
bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas
nacionais e multinacionais.”
Os apolíticos, não
têm consciência de classe, não estão sindicalizados e na maior parte dos casos
pertencem ao grande número de abstencionistas.
Face aos
cortes nos salários e nas pensões, à perda de cada vez mais regalias sociais, ao
desemprego galopante, calam-se, resignam-se.
Assisto
perplexo, ultimamente, à fraca contestação dos cidadãos contra a brutal
política imposta por este governo.
Longe vão os
anos em que por ataques antidemocráticos muito mais fracos que estes, as ruas
das cidades se enchiam de protestos. Os governantes mentem descaradamente, não
cumprindo minimamente o programa pelo qual foram eleitos e ainda cinicamente
fazem o louvor do bom povo português, à boa maneira salazarista.
Muitos erros
foram cometidos depois do 25 de Abril e o curto período, chamado de “excesso de
liberdade”, não conseguiu combater as ideias inculcadas durante anos de
fascismo.
-“Não estraguem as vossas vidas, não se metam
em políticas, façam como eu, a minha política é o trabalho” dizia
cinicamente Salazar.
O elogio da
pobreza e da resignação deste “bom povo” foi feito continuadamente pelos
fascistas e a hierarquia da igreja católica.
Lembram-se da
célebre canção: “É uma casa portuguesa
com certeza”, cantada pela Amália Rodrigues, em que numa das estrofes se diz: “ A
alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente”.
Muita coisa
foi feita desde o advento da democracia para educar o povo, que é um dever do
Estado Democrático. A Educação e a Cultura chegou a ser uma prioridade para
tirar este povo do seu atraso, a instrução pública passou a ser obrigatória,
combateu-se o emprego infantil, diminuiu o desemprego e a emigração,
construiu-se bairros sociais com habitações condignas. Abriram-se novas Universidades
públicas, teatros e casas de cultura, aboliu-se a censura. Edificou-se o
Serviço Nacional de Saúde para todos.
Mas, a
direita, sorrateiramente foi-se instalando debaixo dos olhos néscios da
esquerda, sempre magnânima para com os seus inimigos e o ensino passou para as
mãos da igreja e dos privados e o estado social está a ser destruído e o país
refém do capitalismo financeiro internacional.
A cultura e o
ensino destruídos facilitaram o regresso às antigas ideias do fascismo e do
clero mais retrógrado.
Os aplausos,
na Sé de Lisboa, aos membros deste governo de traição nacional não augura nada
de bom.
As condições
estão criadas para renascer o “apolítico e o resignado”, mentalidades caldeadas
na resignação cristã e na repressão fascista.
O apolítico
pertence a qualquer estrato social, se é pobre protesta nos transportes
públicos, mercearias, nas tabernas ou cafés, mas o seu protesto não ultrapassa o
amuo ou a bebedeira. Foi o que o velho Marx apelidou de lúmpen.
Se pertence à
classe média, que já ninguém sabe o que é, pode pertencer à organização das
festas da cidade, ser dirigente de um clube desportivo, até mesmo se inscrever
num partido do centro – direita que é mais seguro. Têm como características
comuns desmobilizar os que estão à sua volta.
“É pá não vás
em cantigas, não te metas em politica, foge dos políticos, não votes para quê? ”
dizem.
A inscrição
no partido ou a aproximação à sacristia serve apenas para arranjar um
lugarzinho para si ou para um filho ou sobrinho.
Mas o que
realmente acontece, é que são estes seres oportunistas, individualistas, sem
ética e nenhum sentido de servir a sociedade que, abstendo-se ou votando,
decidem quem nos irá governar.
grande verdade
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