segunda-feira, 15 de julho de 2013

APOLITICO

O APOLITICO



“Eu cá sou apolítico”, esta é uma das frases que se ouve recorrentemente na rua, no emprego ou em conversas de café.
Então tu não votas? Não a minha política é o trabalho.
Outra afirmação ignorante que parece ter-se generalizado.
Ao termo apolítico está intimamente ligado o de “buro-tecnocrata”, situação muito defendida por profissionais que trabalham para o Estado e não só.
- “Tu aqui só deves dar o teu parecer técnico a decisão política compete ao ministro”, isto diz-se nas Direcções-Gerais e outros departamentos de Estado.
Como se um parecer técnico, que a maioria das vezes mexe com a vida das populações, não tivesse nada de política.

-“Tudo é político e todos nós temos ideias que devemos manifestá-las para conquistarmos mais liberdade e mais justiça e combater a ignorância”. Estas eram palavras pertencentes ao léxico dos militantes dos partidos de esquerda no seu trabalho de esclarecimento às populações.
Os mídias de grande divulgação, agora nas mãos de grandes grupos capitalistas, fizeram com muito mais eficiência o trabalho contrário. Os políticos são corruptos, são todos iguais, estão lá só para se encherem.
“O governo do país devia ser entregue aos técnicos”; os jovens formados pelos Partidos não conhecem a vida”, são frases que as nossas televisões transmitem sem cessar. O último representante desse animal buro-tecnocrático foi o ministro Gaspar e vejam o que aconteceu, os números não batiam certo, faz um mea culpa e regressou ao Banco de Portugal como um verdadeiro manga-de-alpaca.

Aqueles que dizem ser apolíticos, não são mais que biltres de ideologia reacionária. É nossa obrigação continuar a esclarecer que essa inverdade, só se foram apessoas (não pessoas) e, como dizíamos nos anos 60 e 70, todos pensamos e temos ideias politicas e temos a obrigação de manifestá-las para combater a inercia e a ignorância.

Sabiamente, Bertolt Brecht afirmava: - “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Os apolíticos, não têm consciência de classe, não estão sindicalizados e na maior parte dos casos pertencem ao grande número de abstencionistas.

Face aos cortes nos salários e nas pensões, à perda de cada vez mais regalias sociais, ao desemprego galopante, calam-se, resignam-se.
Assisto perplexo, ultimamente, à fraca contestação dos cidadãos contra a brutal política imposta por este governo.
Longe vão os anos em que por ataques antidemocráticos muito mais fracos que estes, as ruas das cidades se enchiam de protestos. Os governantes mentem descaradamente, não cumprindo minimamente o programa pelo qual foram eleitos e ainda cinicamente fazem o louvor do bom povo português, à boa maneira salazarista.


Muitos erros foram cometidos depois do 25 de Abril e o curto período, chamado de “excesso de liberdade”, não conseguiu combater as ideias inculcadas durante anos de fascismo.
-“Não estraguem as vossas vidas, não se metam em políticas, façam como eu, a minha política é o trabalho” dizia cinicamente Salazar.
O elogio da pobreza e da resignação deste “bom povo” foi feito continuadamente pelos fascistas e a hierarquia da igreja católica.
Lembram-se da célebre canção: “É uma casa portuguesa com certeza”, cantada pela Amália Rodrigues, em que numa das estrofes se diz: “ A alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente”.

Muita coisa foi feita desde o advento da democracia para educar o povo, que é um dever do Estado Democrático. A Educação e a Cultura chegou a ser uma prioridade para tirar este povo do seu atraso, a instrução pública passou a ser obrigatória, combateu-se o emprego infantil, diminuiu o desemprego e a emigração, construiu-se bairros sociais com habitações condignas. Abriram-se novas Universidades públicas, teatros e casas de cultura, aboliu-se a censura. Edificou-se o Serviço Nacional de Saúde para todos.


Mas, a direita, sorrateiramente foi-se instalando debaixo dos olhos néscios da esquerda, sempre magnânima para com os seus inimigos e o ensino passou para as mãos da igreja e dos privados e o estado social está a ser destruído e o país refém do capitalismo financeiro internacional.
A cultura e o ensino destruídos facilitaram o regresso às antigas ideias do fascismo e do clero mais retrógrado.
Os aplausos, na Sé de Lisboa, aos membros deste governo de traição nacional não augura nada de bom.
As condições estão criadas para renascer o “apolítico e o resignado”, mentalidades caldeadas na resignação cristã e na repressão fascista.

O apolítico pertence a qualquer estrato social, se é pobre protesta nos transportes públicos, mercearias, nas tabernas ou cafés, mas o seu protesto não ultrapassa o amuo ou a bebedeira. Foi o que o velho Marx apelidou de lúmpen.
Se pertence à classe média, que já ninguém sabe o que é, pode pertencer à organização das festas da cidade, ser dirigente de um clube desportivo, até mesmo se inscrever num partido do centro – direita que é mais seguro. Têm como características comuns desmobilizar os que estão à sua volta.
“É pá não vás em cantigas, não te metas em politica, foge dos políticos, não votes para quê? ” dizem.
A inscrição no partido ou a aproximação à sacristia serve apenas para arranjar um lugarzinho para si ou para um filho ou sobrinho.


Mas o que realmente acontece, é que são estes seres oportunistas, individualistas, sem ética e nenhum sentido de servir a sociedade que, abstendo-se ou votando, decidem quem nos irá governar.






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