A
FUGA DE CEREBROS
"Este
parte, aquele parte e todos e todos se vão ...."
Cantar da emigração
Os mais velhos lembram-se,
ainda, da magnifica voz de Adriano Correia
de Oliveira que interpretou o Cantar de Emigração com letra de Rosália
de Castro e música de José Niza.
A saída massiva de jovens
sobretudo do Norte de Portugal e da Galiza, fugidos da fome e da guerra
colonial, zonas castigadas pelo êxodo, regiões que ficaram sem homens "que
podem cortar teu pão".
Nos anos sessenta Paris era
considerada a segunda cidade do país, com maior concentração de
portugueses.
Uma semana antes de passar a
fronteira a salto para fugir de ser preso pela PIDE, tinham atravessado de uma
vez, por essa fronteira, trinta jovens minhotos que seguiam clandestinamente para
trabalhar em França, e em que condições! atravessaram a Espanha e transpuseram os
Pirenéus.
Hoje, volvidos cinquenta anos, com a liberdade
conquistada, a descolonização e o desenvolvimento do país. O terceiro D da
revolução de Abril, nunca completamente realizado.
Assistimos ao êxodo de
jovens com formação universitária que deixam o país outra vez sem mulheres e
homens que possam cortar o seu pão.
A fuga de cérebros é uma emigração
em massa de indivíduos com aptidões técnicas ou de conhecimentos, normalmente devido a
fatores como conflitos étnicos e guerras, falta de oportunidade, riscos à saúde e instabilidade política
nestes países. Uma fuga de cérebros é geralmente considerada custosa
economicamente, uma vez que os emigrados obtiveram suas formações de maneira
patrocinada pelo governo.
A fuga de
cérebros pode ser estagnada, através do fornecimento de conhecimento científico
para a sociedade para que ela tenha oportunidades de carreira iguais e
dando-lhes oportunidades de provar as suas capacidades. O termo foi usado para descrever a fuga de
cientista no pós guerra da Europa para a América do Norte. ( definição dada por
Wikipedia)
No nosso país, a saída massiva de técnicos, entre os quais profissionais
de saúde médicos e enfermeiros, deve-se às más condições de trabalho, falta de
oportunidade destruição de carreiras e baixos salários.
A troika impôs-nos despedimentos e cortes salariais e este
governo foi muito para além das medidas impostas o que levou ao aumento nunca
visto de desempregados.
O estudo, coordenado por Tiago Reis Marques, ele próprio a
trabalhar no King´s College, em Londres e
publicado na Acta Médica Portuguesa, revista cientifica da Ordem dos
Médicos chega a resultados preocupantes, que os nossos governantes devem tomá-los
em conta e não assobiar para o lado como é costume.
Quatrocentos mil euros é quanto custa ao país formar um
médico e cerca de 60% de estudantes, admite emigrar e o numero aumenta para 74%
quando se interrogam os internos no ultimo ano da especialidade.
Estes números vem provar o que há muito a Ordem dos Médicos
alertava. O numero de pedidos de
atestados para exercer medicina no estrangeiro tem vindo a aumentar, só na
região sul os pedidos atingem no primeiro quadrimestre de 2015, uma média
mensal de 22 atestados.
Há muito que os médicos perceberam a politica deste governo,
formação em massa de médicos indiferenciados para numa lógica puramente
economicista da lei da oferta e da procura oferecer baixos salários.
A promessa do Ministro em dar um médico de família a um
milhão de portugueses, até ao fim do mandato ficou nisso mesmo, uma Promessa.
A contratação de médicos reformados revelou - se um fracasso
porque as verdadeiras causas das reformas antecipadas, degradação dos serviços
médicos, não foram compreendidas.
Este período, pré eleitoral faz lembrar outra canção também
cantada por Adriano o Sr. Morgado, para quem não conheça cito uma das estrofes Topa um influente, sou um seu criado/
Eleições à porta, seja Deus louvado/ Seja Deus louvado/ Seja Deus louvado.
A fuga dos cérebros não se limita apenas aos médicos e aos
enfermeiros onde as agências estrangeiras vêm ao nosso país proceder ao seu
recrutamento.
A porta da emigração estende-se a outros profissionais com
habilitações superiores.
O Conselho Nacional das Ordens Profissionais C.N.O.P., que representa 16 Ordens Profissionais e mais
de 300 mil profissionais redigiu em 9 de Junho de 2015 uma carta dirigida ao
Primeiro-Ministro dando conta da remuneração de profissionais qualificados
oferecidas pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP)
consideradas ofensivas da dignidade destes jovens.
Assim, a carta dá conhecimento de um anuncio publicado no
jornal Diário de Notícias, em 16 de Abril deste ano:
" Um engenheiro mecânico que aceite um trabalho
na zona de Anadia vai ganhar 515 euros mensais ilíquidos. A oferta, publicada
no site do IEFP, insere-se no programa Estímulo Emprego, que financia empresas
para contratar desempregados......"
A esta noticia, similar a outras, somaram-se referências à
subcontratação do Estado a valores que rondam os 4,0 Euros/hora para
profissionais qualificados.
E desiludam-se aqueles que pensam que a maioria destes jovens
vão retornar ao país, com as péssimas condições de trabalho oferecidas, os
nossos concidadãos irão fixar-se noutras regiões e aí, casam, têm filhos e irão
contribuir para o desenvolvimento de outros países.
Há países como a Irlanda que também sofreram o êxodo de
profissionais qualificados devido às medidas de austeridade impostas pela
Troika mas tentam agora reverter a
situação oferecendo salários mais justos. Este é o caminho que os nossos
governantes devem seguir.
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