A Cultura da Prevenção
Mais vale
prevenir que remediar, assim diz o povo. Mas, infelizmente, neste cantinho à
beira mar plantado, atravessado por muitos povos, não passa de uma frase feita.
Não sei se a
culpa é da nossa herança judaico-cristã ou se daqueles outros povos que
trouxeram até nós o fado.
A verdade é
que para nós todos os acidentes que acontecem são azares. Já estava fadado. Bem
podem especialistas de várias áreas explicarem que o centro de convívio de Vila
Nova da Rainha tinha muitos erros de construção: chaminé da salamandra mal
colocada, esferovite e outros materiais inflamáveis colocados entre o tecto e o
telhado, porta que abria para dentro, porta sem barras de segurança, falta de
sinalética, etc..
Bem podem
explicar as causas dos incêndios florestais, dos acidentes rodoviários e como
se pode e deve prevenir, mas não serve de nada.
A verdade é
que as vistorias não são feitas ou se são não se cumprem as indicações e os
regulamentos, a reforma florestal não é feita, não se investe em prevenção na
saúde, etc.
O mal só
acontece aos outros. Mas prevenção de acidentes nunca. Claro que os custos para
remediar a falta de prevenção são muito maiores. Mas o país é rico…
Porém, nem
todos pensam assim. Senão vejamos, a seguir ao desastre do centro de convívio
de VN da Rainha, o Presidente da República disse que tudo estava em ordem, as
vistorias tinham sido realizadas e foi um azar a porta abrir para dentro e a
outra porta não estar visível (parece até que estava fechada a sete chaves).
Quando foi
dos incêndios em Pedrogão, no primeiro dia, o Presidente Marcelo entrou de
rompante para dirigir-se aos populares. Um membro da proteção civil disse-lhe
em bom som: "Sr. Presidente é perigoso ir por aí", pois foi por ali
que ele foi.
Bem pode a
Direção Geral de Saúde publicar lindos folhetos sobre o risco de acidentes na
terceira idade com pavimentos escorregadios em casa ou na rua ou com as
varandas perigosas espalhada em prédios por todo o país que poucos ligam.
Gastam-se
milhões de euros a curar o que falha na prevenção. Todos os anos assistimos a
mortos, feridos, estropiados por incúria de quem nos governa.
Por mais
aviões e água que se gaste a apagar fogos, não resolvemos os incêndios
florestais. Por mais obras que se façam sem vistorias competentes e exigência
de cumprimento de regulamentos, todos os anos vamos ter edifícios assassinos (ponte
de Entre-os-Rios, salas em Vila Nova da Rainha, estádios de futebol, queda de
crianças de andares e de idosos em suas casas ou nas ruas e o rol não tem fim).
Por mais leis e regulamentos aprovados se não houver fiscalização tudo irá
continuar na mesma. O combate à ignorância e à falta de cultura da prevenção,
que não é mais que o desrespeito pelos outros, deve começar desde o berço e
seguir por toda a vida e, Sr. Presidente, não podemos esquecer que o exemplo
vem de cima.
Como já
alguém disse, não se pode inventar um povo. O grande problema consiste em
interpretá-lo e esclarecê-lo.
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