quinta-feira, 7 de junho de 2018

IRLANDA

 Teresa a falar na Universidade de Cork
IRLANDA


Fui a Cork , segunda cidade mais populosa da república da Irlanda, no dia 26 de Abril de 2018, acompanhar a Teresa que ia falar na universidade local, importante centro educacional, para apresentar a experiência portuguesa no acolhimento aos refugiados.
Certamente porque esta é uma boa experiência.
Decorria então a campanha para a votação da despenalização do aborto e pudemos  assistir a várias manifestações prós e contra.
A velha Irlanda católica, com uma igreja considerada das mais retrógradas do mundo que ainda há pouco tempo viveu um confronto sangrento com os seus compatriotas protestantes do Norte, iria votar SIM pela despenalização do aborto, numa escrutínio popular muito concorrido, com 66,4% dos votos expressos.
Assim, a ilha fica dividida, a parte sul, república da Irlanda, de maioria católica, votou pela interrupção voluntária da gravidez, ao passo que a parte norte, pertencente à Grã Bretanha, apesar desta ter promulgado a lei  da despenalização do aborto, exclui dessa possibilidade
.
Sobre o lema Her Body Her Choice os irlandeses entraram na via do progresso, não sem terem passado, como em muitos países, pelas mortes de algumas grávidas que chocaram a sociedade, nomeadamente a de uma jovem indiana.

Por isso, há quem proponha que a nova lei se passe a chamar " Lei Savita": nome de uma jovem de 31 anos que imigrou para a República da Irlanda para continuar a sua carreira de dentista. No verão de 2012, tudo parecia sorrir para esta jovem, estava grávida. Mas, ao 4ºmês de gestação, um aborto espontâneo interrompe abruptamente todas as suas esperanças.

Apesar da confirmação segura do insucesso da gravidez e da não viabilidade do feto, os médicos recusaram-se a proceder à evacuação uterina que teria podido impedir a sua morte por septicémia.
Foi a morte desta jovem que relançou, neste país, os debates sobre a lei que proibia absolutamente o aborto.

Efetivamente, a sociedade conservadora irlandesa tinha, em 1983, por referendo, introduzido a proibição da Intervenção Voluntária da Gravidez (IVG) na sua constituição. A morte de Savita lembrou a perigosidade e a inadaptação da legislação irlandesa.
Lá como cá uma nova geração de militantes surgiu combatendo as velhas causas defendidas por uma sociedade retrógrada. Foram os mesmos jovens que combateram a favor da adopção por casais homossexuais, a mesma que contribuiu à chegada ao poder do jovem primeiro ministro progressista Leo Varadkar.  Desde o inicio do seu mandato, Varadkar, apostou numa evolução da sociedade irlandesa, ele que nunca escondeu a sua homossexualidade, mas mostrava-se reservado sobre a questão do aborto porque temia que ela levasse a uma cissão no seio da sociedade da república.
Mas quando em 25 de Maio a Irlanda vota a favor da revogação da oitava emenda constitucional que impedia qualquer lei liberalizante do aborto, Leo Varadkar disse : " Nós não somos um país dividido" 1,4milhões de pessoas votaram pela supressão da emenda (ao passo que 840.000 tinham contribuído para a sua adoção há 35 anos) não houve diferença entre as cidades e o campo nem entre mulheres e homens, estes últimos votaram maioritariamente "sim".
Leo Varadkar num discurso arrebatado citou a poetisa norte americana Maya Angelou na sua obra célebre Phenomenal Woman : " Os sofrimentos sofridos durante decénios pelas mulheres irlandesas não podem ser apagados, mas hoje, nós assegurámos  que eles não poderão repetir-se"
O governo está determinado a andar depressa e publicar uma lei, até ao fim do ano, que permitirá a IVG até às 12 semanas sem condições e até às 24 semanas em caso de perigo grave para a mãe ou para a criança.

Assim a ilha fica dividida se uma parte importante da população está favorável a uma mudança da lei, uma parte da classe política é contra (ao contrário da Irlanda do Sul)
Um responsável da Amnistia Internacional afirmou num comunicado publicado a seguir à votação no Sul: " Nós não podemos ser considerados como cidadãos de segunda e ser deixados num canto do Reino Unido e da Ilha".

A bola está do lado de Teresa May, mas a sua maioria instável depende do apoio de seis deputados conservadores irlandeses do Democratic Unionist Party, e …  politique oblige.
Esperemos que esta vitória eleitoral na República da Irlanda dê um novo alento aos militantes pró aborto do Norte.



Sem comentários:

Enviar um comentário