Foto da parede do meu escritório |
MORRER E RENASCER EM
GUERNICA
«Decidi acabar
rapidamente com a guerra no Norte: os que entregarem as armas terão a vida
salva e os seus bens serão salvaguardados. Mas, se a submissão não for
imediata, arrasarei toda a Biscaia»
General Mola
No verão de 1967, estava a Teresa gravidíssima
do nosso filho mais velho Carlos Miguel, visitei Praga integrado numa delegação
de estudantes portugueses a viver no estrangeiro.
A reunião ia realizar-se em Varsóvia
sob os auspícios da União Internacional de Estudantes. Na capital da Polónia reencontraram-se
estudantes portugueses no exílio vindos de muitos países: França, Bélgica,
Suíça, Itália, Alemanha, Checoslováquia, Hungria, Jugoslávia, Roménia, Polónia,
URSS.
Em Praga, além das lembranças obrigatórias
para a futura mãe e o bebé que ia nascer, comprei uma cópia da Guernica que
ainda hoje, passados 50 anos, se exibe numa parede de minha casa.
Faz 90 anos que Pablo Picasso mostrou
esta gigantesca obra de arte na Exposição Universal de Paris (25/5 a 25/11 de
1937).
Meses antes, precisamente na segunda-feira,
26 de Abril de 1937, dia de mercado, a população desta pequena vila basca, com cerca
de sete mil habitantes, estava na rua aproveitando os primeiros raios de sol
que anunciavam o início da primavera. Em seguida, às cinco da tarde os sinos
tocam a rebate e cinco minutos depois….
a legião Condor, elite da Luftwaffe,
menina dos olhos de Goering, experimenta um novo método, chamado "tapete
de bombas", os aviões eram "Heinkel 111" e "Junker 52".
O bombardeamento durou três horas. As
vagas sucediam-se com precisão de vinte em vinte minutos. Todo o centro desta
cidade santa* chamada Guernica foi destruído. Mil seiscentos e cinquenta e
quatro mortos, oitocentos e nove feridos.
O general alemão Galland, comandante
da esquadrilha alemã, dirá mais tarde: «Guernica não era um objectivo militar,
foi um lamentável erro». Hoje diria um dano colateral.
A Europa assiste, de balcão em
Hendaye, à destruição da República Espanhola, perante a passividade da França,
Inglaterra e dos Estados Unidos, apenas a União Soviética trabalha para a
derrota do fascismo.
A política de não-intervenção
permitiu a vitória do fascismo em Espanha e o reforço belicista da Alemanha e
da Itália.
Perante este horror, Pablo Picasso, a
viver em Paris, aceita o pedido do governo espanhol de participar na Exposição Universal de Paris. A decisão estava tomada: seria
Guernica. O quadro fará depois a volta por todos os museus do mundo a fim de
financiar os republicanos espanhóis. Foi seu desejo que o quadro só seria
exposto em Espanha depois do regresso da Democracia. E assim foi.
A força desta obra de um génio da
pintura fez com que a guerra não tenha sido esquecida nem a besta
nazi-fascista.
Fez com que a verdade tenha vencido
mesmo em Espanha e no Portugal fascistas
que intoxicavam o povo com a mentira de que Guernica tinha sido incendiada
pelos combatentes bascos e os vermelhos.
Esta campanha durou até aos anos 70,
do seculo XX.
Só em 1975, a Alemanha reconhece
oficialmente que Guernica tinha sido bombardeada pela aviação alemã. Em 27 de
Março de 1997, o então Presidente da República Federal Alemã, Herzog, convidado
pelo centro "Gernika Gogoratuz", entrega uma declaração formal
assumindo aquele passado.
Símbolo do massacre de populações
civis, Guernica não deve ser esquecida. Infelizmente a memória dos homens é
curta e estes massacres repercutiram-se no Vietnam e perduram noutros conflitos, como atualmente no Médio Oriente.
*Cidade santa. Ao longo
dos séculos, os reis de Espanha vinham, uma vez por ano, diante do velho
carvalho de Guernica (haritz em basco), prestar juramento de respeitar as
liberdades dos bascos. Sob o carvalho de Guernica-a-Santa, os anciãos vinham
fazer justiça.
Fontes: Marianne, Expresso, Morrer em
Madrid
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