quinta-feira, 1 de março de 2018

Galinha Turista


Contos de emigração e exílio
A Galinha turista
A pedido de vários seguidores, retomo a escrita sobre estas historietas passadas em países distantes.

O José, transmontano de várias gerações e de boa cepa, exilado em terras helvéticas, suportava bem o frio e a neve do longo Inverno, pois já tinha sofrido temperaturas muito baixas na sua região.
Terra conhecida por ter nove meses de inverno e três de inferno, infelizmente sem as condições mínimas para guardar o calor do corpo, o que torna rija as gentes aí nascidas.
O sítio onde apanhei mais frio foi na Lixa, numa casa desabitada, quando andei fugido da PIDE, e muito mais tarde nas campanhas de dinamização cultural, em Sernancelhe, durante o inverno de 75. Aí, eu ressenti o mesmo frio que gela os ossos.
À noite, os lençóis da cama estavam alagados e a Dona Emília, cozinheira e parteira do hospital, entre muitos mais atributos, passava-os carinhosamente a ferro, antes de nos deitarmos.  
Voltemos ao nosso amigo José. As grandes saudades que ele tinha da terra eram da comida, do cheiro do fumeiro e do paladar apurado.
Por nunca na vida trocaria um bom presunto por uma fondue de queijo. Que raio de povo em que as especialidades culinárias são queijo aquecido ou queijo com batatas cozidas (raclette) e de entrada a viande séchée, comentava.
O José andava triste, não sentia falta do mar,  como acontecia a muitos outros patrícios, pois como dizia “nunca tinha visto um transmontano com saudades do mar”, mas o que lhe faltava eram os petiscos da sua terra.
Os pais do José quiseram fazer-lhe uma surpresa e, nas férias de verão, partiram das serranias em direção à Suíça, em caravana, com uma galinha do campo.
Nas inúmeras paragens obrigatórias até aos Alpes, soltavam o galináceo que, apesar de ter o seu destino traçado, regalava -se com o milho espanhol e francês.
Chegados à fronteira, os guardas suíços (não são os do Vaticano) implicaram com a pobre galinha e perguntaram pelas vacinas do animal.
Ils sont fous ces suisses !! Onde é que já se viu vacinar galinhas e ainda nem se falava da gripe das aves.
Os pais do José não tiveram problemas e, dando razão à fama do desenrascanço luso, deram meia volta, pararam na localidade francesa mais próxima e mataram o bicho,  que entrou clandestinamente na Suíça em forma de arroz de cabidela.

NOTA: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

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