A Galinha turista
A pedido de vários seguidores, retomo
a escrita sobre estas historietas passadas em países distantes.
O José,
transmontano de várias gerações e de boa cepa, exilado em terras helvéticas,
suportava bem o frio e a neve do longo Inverno, pois já tinha sofrido temperaturas
muito baixas na sua região.
Terra
conhecida por ter nove meses de inverno e três de inferno, infelizmente sem as
condições mínimas para guardar o calor do corpo, o que torna rija as gentes aí
nascidas.
O sítio onde
apanhei mais frio foi na Lixa, numa casa desabitada, quando andei fugido da
PIDE, e muito mais tarde nas campanhas de dinamização cultural, em Sernancelhe,
durante o inverno de 75. Aí, eu ressenti o mesmo frio que gela os ossos.
À noite, os
lençóis da cama estavam alagados e a Dona Emília, cozinheira e parteira do
hospital, entre muitos mais atributos, passava-os carinhosamente a ferro, antes
de nos deitarmos.
Voltemos ao
nosso amigo José. As grandes saudades que ele tinha da terra eram da comida, do
cheiro do fumeiro e do paladar apurado.
Por nunca na
vida trocaria um bom presunto por uma fondue
de queijo. Que raio de povo em que as especialidades culinárias são queijo
aquecido ou queijo com batatas cozidas (raclette)
e de entrada a viande séchée,
comentava.
O José
andava triste, não sentia falta do mar, como acontecia a muitos outros patrícios, pois
como dizia “nunca tinha visto um transmontano com saudades do mar”, mas o que lhe
faltava eram os petiscos da sua terra.
Os pais do
José quiseram fazer-lhe uma surpresa e, nas férias de verão, partiram das
serranias em direção à Suíça, em caravana, com uma galinha do campo.
Nas inúmeras
paragens obrigatórias até aos Alpes, soltavam o galináceo que, apesar de ter o
seu destino traçado, regalava -se com o milho espanhol e francês.
Chegados à
fronteira, os guardas suíços (não são os do Vaticano) implicaram com a pobre
galinha e perguntaram pelas vacinas do animal.
Ils sont fous
ces suisses !! Onde é que já se viu vacinar galinhas e ainda nem se falava
da gripe das aves.
Os pais do
José não tiveram problemas e, dando razão à fama do desenrascanço luso, deram
meia volta, pararam na localidade francesa mais próxima e mataram o bicho, que entrou clandestinamente na Suíça em forma
de arroz de cabidela.
NOTA: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
NOTA: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência
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