terça-feira, 18 de setembro de 2012

A MINHA AVÓ FLORA

 
A MINHA AVÓ FLORA
A minha avó Flora era na verdade avó da minha mãe, mas assim a chamávamos para a distinguir da minha verdadeira avó, a avó Júju, sua nora.
Os homens na família Teixeira morreram cedo, por volta do quarto e quinto decénio da vida. Por esta razão, a minha bisavó Flora foi viver para nossa casa, devia eu ter 3 ou 4 anos, e aí ficou até aos meus 18 anos, data em que faleceu.
As recordações que tenho dela são felizes:- ir para o seu quarto ouvir histórias e comer algumas guloseimas que ela comprava para nós, às escondidas dos meus pais. Dizia sempre:- “ Não digas nada aos teus irmãos” e com eles fazia o mesmo. Como era católica muito praticante, apesar de só ter sido batizada aos 10 anos pois a família Leão tinha uma forte costela judaica, quando nós íamos fazer exames, eu e os meus irmãos, pedíamos-lhe sempre: – “Avozinha, não se esqueça de pedir aos seus santos para termos boas notas nas provas” e tínhamos.
Flora Josefina Leão era natural de Bragança e pertencia à burguesia rural, a família possuía terras nas margens do rio Sabor e casas comerciais no Porto e em Lisboa. Casou com um oficial do exército e teve um único filho que seguiu também a vida militar e foi dos pioneiros da aviação militar quando esta pertencia ao exército, antes de existir a arma da aviação.
Viveu sempre muito bem, em vivendas com jardim, quer no Ameal quer mais tarde no Dafundo, quando se transferiram para Lisboa. Sofreram várias crises financeiras, as lutas com os monárquicos (os talassas), a guerra mundial e o advento do fascismo. Como aconteceu a muitas famílias da época perderam todos os bens, prédios urbanos e rurais, sendo ainda para mim um mistério.
 O meu bisavô esteve nas campanhas de Africa e o meu avô lutou ainda muito jovem na Flandres, tendo sido feito prisioneiro de guerra pelos alemães. Quando morreram deixaram à minha avó Flora uma boa pensão, pensão de sangue, por terem sido antigos combatentes medalhados. O meu avô tinha a Cruz de Guerra e a medalha de Mérito Militar.
 Muita gente ignora ou talvez não, que o Salazar na sua politica de austeridade cortou estas pensões aos antigos combatentes, assim como a muitos republicanos.
Durante o fascismo, excetuando as pensões de fome das caixas de previdência e dos grémios, a esmagadora maioria da população não tinha nada. Assim o esforço depois do 25 de Abril para erguer um estado social foi hercúleo e muitos dos dinheiros do cofre do Estado foram gastos. Infelizmente também a corrupção generalizou-se, mas isso é outro artigo.
PP Coelho, o menino Portas e Gaspar, Moedas e Cia devem ter-se inspirado nestas medidas fascistas muito gravosas para os mais indefesos, os pensionistas e reformados. O governo PSD/CDS esquece que nós reformados descontámos durante 40 anos de vida de trabalho e por isso temos direito a este dinheiro e não a outro de menor montante. Como explicou e bem, Manuela Ferreira Leite, se tivéssemos 100 euros no Banco e no momento do seu resgate nos dessem apenas 80, consideraríamos um roubo. Apesar, que isto nem sempre foi assim, no tempo da minha avó os bancos faliam e não pagavam nada a ninguém, nem aos bancos, atualmente é que existem seguros e quando as seguradoras estão aflitas vem o Estado, como aconteceu recentemente.
Quando cheguei à Suíça, nos idos anos sessenta, fiquei impressionado com o número de idosos que se passeavam pelas ruas e jardins de Lausanne. Um querido amigo dizia-me;- Já reparaste que viemos parar a um país de velhos!-.
Efetivamente, em Lisboa e pelo menos nas grandes cidades, os nossos idosos ficavam em casa. A minha avó só saía da casa da Alameda, quando íamos de férias, para um automóvel que a transportava para Arganil, onde vivia o meu tio. Por outro lado a esperança de vida era, nos anos sessenta de 60,7 anos e agora é de 79,4 e isto muito à custa do Estado Social e sobretudo do nosso Serviço Nacional de Saúde, e podemos agora, ver nos jardins e ruas das cidades, os nossos idosos, até quando?
Todas estas conquistas o governo de mãos dadas com a Troika quer destruir. Vamos andar 50 anos para trás? A diferença é de que antigamente os netos sustentavam as avós e agora com o aumento galopante do desemprego são os avós que tem muitas vezes q ajudar financeiramente os filhos e os netos.

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