A MINHA AVÓ FLORA
A minha avó Flora era na verdade avó da minha mãe, mas assim
a chamávamos para a distinguir da minha verdadeira avó, a avó Júju, sua nora.
Os homens na família Teixeira morreram cedo, por volta do
quarto e quinto decénio da vida. Por esta razão, a minha bisavó Flora foi viver
para nossa casa, devia eu ter 3 ou 4 anos, e aí ficou até aos meus 18 anos,
data em que faleceu.
As recordações que tenho dela são felizes:- ir para o seu
quarto ouvir histórias e comer algumas guloseimas que ela comprava para nós, às
escondidas dos meus pais. Dizia sempre:- “ Não digas nada aos teus irmãos” e
com eles fazia o mesmo. Como era católica muito praticante, apesar de só ter
sido batizada aos 10 anos pois a família Leão tinha uma forte costela judaica,
quando nós íamos fazer exames, eu e os meus irmãos, pedíamos-lhe sempre: –
“Avozinha, não se esqueça de pedir aos seus santos para termos boas notas nas
provas” e tínhamos.
Flora Josefina Leão era natural de Bragança e pertencia à
burguesia rural, a família possuía terras nas margens do rio Sabor e casas
comerciais no Porto e em Lisboa. Casou com um oficial do exército e teve um
único filho que seguiu também a vida militar e foi dos pioneiros da aviação
militar quando esta pertencia ao exército, antes de existir a arma da aviação.
Viveu sempre muito bem, em vivendas com jardim, quer no Ameal
quer mais tarde no Dafundo, quando se transferiram para Lisboa. Sofreram várias
crises financeiras, as lutas com os monárquicos (os talassas), a guerra mundial
e o advento do fascismo. Como aconteceu a muitas famílias da época perderam
todos os bens, prédios urbanos e rurais, sendo ainda para mim um mistério.
O meu bisavô esteve
nas campanhas de Africa e o meu avô lutou ainda muito jovem na Flandres, tendo
sido feito prisioneiro de guerra pelos alemães. Quando morreram deixaram à
minha avó Flora uma boa pensão, pensão de sangue, por terem sido antigos
combatentes medalhados. O meu avô tinha a Cruz de Guerra e a medalha de Mérito
Militar.
Muita gente ignora ou
talvez não, que o Salazar na sua politica de austeridade cortou estas pensões
aos antigos combatentes, assim como a muitos republicanos.
Durante o fascismo, excetuando as pensões de fome das caixas
de previdência e dos grémios, a esmagadora maioria da população não tinha nada.
Assim o esforço depois do 25 de Abril para erguer um estado social foi hercúleo
e muitos dos dinheiros do cofre do Estado foram gastos. Infelizmente também a
corrupção generalizou-se, mas isso é outro artigo.
PP Coelho, o menino Portas e Gaspar, Moedas e Cia devem ter-se
inspirado nestas medidas fascistas muito gravosas para os mais indefesos, os pensionistas
e reformados. O governo PSD/CDS esquece que nós reformados descontámos durante
40 anos de vida de trabalho e por isso temos direito a este dinheiro e não a
outro de menor montante. Como explicou e bem, Manuela Ferreira Leite, se
tivéssemos 100 euros no Banco e no momento do seu resgate nos dessem apenas 80,
consideraríamos um roubo. Apesar, que isto nem sempre foi assim, no tempo da
minha avó os bancos faliam e não pagavam nada a ninguém, nem aos bancos, atualmente
é que existem seguros e quando as seguradoras estão aflitas vem o Estado, como
aconteceu recentemente.
Quando cheguei à Suíça, nos idos anos sessenta, fiquei
impressionado com o número de idosos que se passeavam pelas ruas e jardins de
Lausanne. Um querido amigo dizia-me;- Já reparaste que viemos parar a um país
de velhos!-.
Efetivamente, em Lisboa e pelo menos nas grandes cidades, os
nossos idosos ficavam em casa. A minha avó só saía da casa da Alameda, quando
íamos de férias, para um automóvel que a transportava para Arganil, onde vivia
o meu tio. Por outro lado a esperança de vida era, nos anos sessenta de 60,7 anos e agora é de 79,4 e isto muito à custa do Estado
Social e sobretudo do nosso Serviço Nacional de Saúde, e podemos agora, ver nos
jardins e ruas das cidades, os nossos idosos, até quando?
Todas estas conquistas o governo de mãos dadas com a Troika
quer destruir. Vamos andar 50 anos para trás? A diferença é de que antigamente
os netos sustentavam as avós e agora com o aumento galopante do desemprego são
os avós que tem muitas vezes q ajudar financeiramente os filhos e os netos.
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