terça-feira, 30 de agosto de 2011

LIBIA





DEMOCRACIA NA LIBIA



As notícias que lemos, vemos e ouvimos sobre a Libia falam do restabelecimento para breve da democracia nesta parte do Mundo.
Ficamos perplexos quando nos mostram os representantes das forças rebeldes, nas suas viagens por França ( o país que maior apoio deu à guerra na Libia) e Itália.

Uma das figuras que aparece ( cf. foto), como representante da CNT, é Mustafá Abdel Jahil, “curioso democrata”, foi o juiz que condenou as enfermeiras búlgaras à morte ( lembram-se?) e que foi recompensado pelo ditador Kadafi que o nomeou Ministro da Justiça cargo que exerceu de 2007 até há poucos meses.

O Conselho Nacional de Transição ( CNT) é um bloco reaccionário e oportunista constituído por islamistas radicais, socialistas!, nacionalistas ( não se percebe pois não existe nação), bandidos, guerrilheiros e ex militares.

A unidade deste bloco não augura nada de permanente, o que prova o assassinato de Mohamed Fatah Younis, ex Ministro do Interior de Kadafi e ex comandante das forças especiais livres, por um sector dos rebeldes como represália por ter reprimido uma revolta islamita em 1990.
Grandes democratas!

O destino da Libia será como o do Iraque e do Afeganistão, os interesses do imperialismo não são restabelecer a democracia, mas controlar as riquezas deste país.

Vários analistas afirmam que aos Estados Unidos interessa-lhe mais uma posição estratégica de entrada no continente africano, deslocando o AFRICOM (Comando militar dos Estados Unidos para África) da sua sede actual em Stutgard, na Alemanha, do que os poços de petroleo.

Um aviso fica para alguns dirigentes subservientes, Kadafi tinha-se tornado um dos apoiantes mais fiéis do imperialismo no Médio Oriente, mas este não conhece amigos e se for necessário descarta-os









segunda-feira, 22 de agosto de 2011

MORREU BEATRIZ CAL BRANDÃO


Decorria o mês de Fevereiro de 1965 quando conheci o casal Cal Brandão.

Perseguido pela PIDE e querendo fugir para o estrangeiro estava escondido em casa amiga no bairro da Boavista, esperando as condições necessárias para passar a fronteira a salto. Por razões alheias à minha vontade fui obrigado a sair rapidamente desse abrigo.

Depois de uma viagem atribulada pelo Minho, desde Viana até ao Porto, em que as portas de muitos antifascistas se fecharam, vim parar à célebre moradia de Gaia dos Cal Brandão.

Acolheram-me imediatamente, sem saberem a minha verdadeira identidade, era apenas um jovem fugido à polícia que precisava de ajuda.

Para eles eu era o César, pseudónimo que utilizava à época.

Na casa de Vila Nova Gaia, com o seu grande jardim convivi intensamente quase durante um mês com Beatriz Cal Brandão. A memória que guardo é de uma senhora carinhosa, muito simples e de trato fácil. Foi para mim uma segunda mãe que muito me ajudou numa situação difícil.

Beatriz pertencia àqueles portugueses que arriscavam a sua liberdade para proteger outros perseguidos políticos com um sentido de solidariedade.

Na sua casa passaram inúmeros jovens que se escondiam da PIDE, quer por motivos políticos quer por se recusarem a combater na injusta guerra colonial.

Só muito mais tarde é que Beatriz e Mário, vieram a saber que tinham escondido o filho de um dos seus amigos e correligionário desde a juventude, Abílio Mendes.

Beatriz e Mário Cal Brandão não morreram, ficam para sempre gravados na minha memória.

Nas notas secas dos obituários, a figura de Beatriz Cal Brandão, está registada como uma das fundadoras do Partido Socialista, a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química e ex presa política.

Após o 25 de Abril, foi eleita deputada pelo PS, exerceu funções durante várias legislaturas e foi a primeira deputada a defender, no Parlamento, o direito ao aborto.

Morre aos 97 anos.

Morre como viveu sem grandes parangonas nos Jornais.