sexta-feira, 25 de março de 2011

O CAMINHO DE SALOMÃO: DIA DO ESTUDANTE 1962

O CAMINHO DE SALOMÃO: DIA DO ESTUDANTE 1962

DIA DO ESTUDANTE 1962

Esta foto foi publicada há uns anos pelo Expresso, tem porém vários erros ou imprecisões.
  1. A foto é  de 1962, ano da greve académica, em 1961 não houve plenários no estádio universitário.
  2. O líder estudantil identificado com o nº2 é, o então dirigente da Associação da Faculdade de Ciências, António Ribeiro, filho do Prof Orlando Ribeiro e não Jorge Santos
  3. Os outros nomes identificados na foto estão correctos
  4. Sentado, no lado direito de Jorge Sampaio está o estudante de Medicina, Arez da Silva, já falecido.
O jantar de convívio este ano na Cantina foi um sucesso. Parabéns Artur Pinto e demais colegas da comissão organizadora. Para o ano é o cinquentenário .....

PS: Se cometi algum erro nas identificações corrijam-me.

segunda-feira, 21 de março de 2011

MEDEIROS FERREIRA

Antes do 25 de Abril foi para a Suíça, na mesma altura que outros portugueses, como António Barreto, e foi o primeiro português a ter o estatuto de exilado político. Foi uma grande vitória política?

Sim, fui o primeiro a pedi-lo e a obtê-lo. Eu sou um bocadinho institucional e formalista quando essas coisas são importantes politicamente. Foi uma vitória política e mais tarde muitos dos meus amigos que lá estavam também pediram e também obtiveram. A Suíça portou-se muito bem desse ponto de vista.

Entrevista de Medeiros Ferreira ao Jornal I e publicada no blogue o Bicho Carpinteiro.
Como no teu blogue não consigo escrever um comentário, post aqui o meu esclarecimento.

O primeiro português a obter o estatuto de exilado politico na Suiça foi o Quim Fernandes, penso que conheceste, que foi para Genebra muito antes de nós. Ver foto.Tu foste sim o primeiro estudante português
Eu também sou muito formalista e acho que só nos fica bem sermos assim.



 
 
 
 
 
 
 
 
Na Foto: da esquerda para a direita: Quim Fernandes, Olinda, Manuela Pinto Nogueira, Carlos Almeida, Teresa ( só se vê os cabelos), eu e o Barreto de costas. Tu, Medeiros, ainda não tinhas chegado à Suiça

ALJUBE



No dia 14 de Abril deverá ser inaugurada a exposição a Voz das Vitimas na antiga cadeia do Aljube reconstruida


Acabo de encontrar este magnífico artigo de Vasco da Gama Fernandes, publicado no jornal a Luta, a 12 de Agosto de 1978.

Aí, relata minuciosamente uma visita ao campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, julgo que ainda exercia o cargo de Presidente da Assembleia da República (1976 – 1978).

Vasco da Gama Fernandes nasceu em São Vicente, Cabo Verde, em 1908, cedo veio para Lisboa, onde estudou no Liceu Passos Manuel e mais tarde na Faculdade de Direito.

Lutador antifascista, ainda estudante universitário, colaborou no Batalhão Académico e mais tarde, já advogado, pertenceu a quase todos os movimentos unitários e socialistas que existiram em Portugal, desde a Aliança Republicana e Socialista, o Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), o Movimento de Unidade Democrática (MUD), as comissões eleitorais, Norton de Matos, Quintão Meireles e Humberto Delgado, até ao Directório Democrato-Social donde veio a sair para aderir à Acção Socialista. Será um dos fundadores do Partido Socialista.
Como causídico, antes do 25 de Abril, defendeu nos tribunais plenários inúmeros presos políticos.

No Portugal democrático é eleito deputado por Leiria, nas listas do PS para a Assembleia Constituinte de que foi Vice-presidente.

É o primeiro presidente da Assembleia da República depois do 25 de Abril.

Rompeu com o PS e aderiu à Frente Republicana e Socialista. Mais tarde fundou com Ramalho Eanes o PRD que o levaria de novo à Assembleia como deputado (1985/1987).

Apoiou Francisco Salgado Zenha nas eleições presidenciais em 1986. Morreu em 1991

Esta sua atitude de combatente, que assumiu sempre com humildade, como escreve neste artigo: “O Tarrafal da maldição, nossa vergonha e nosso remorso.” e mais adiante:-“Pois ali estive algumas horas com uma grande amargura a picar-me o peito e com algum remorso por não ter feito mais para que isso não acontecesse” valeu-lhe a prisão com várias passagens no Aljube, e como escreve neste artigo escapou por uma unha negra ao internamento no Tarrafal.

Realço a sua determinação em descrever com todos os pormenores o campo da morte lenta para que as novas gerações tenham conhecimento e cito: “ Eu sei que é muito difícil reconstituir o que teria sido aquilo, por mais vivas que sejam as descrições, entre outros, dos meus amigos Edmundo Pedro, Francisco Miguel e Marcelino Mesquita.”

Mais adiante, no mesmo artigo, diz-nos que os responsáveis do governo de Cabo Verde independente prometeram-lhe que o campo seria reconstruído na sua traça primitiva, não esquecendo a tristemente famosa “frigideira”.

No fim do artigo, Vasco da Gama Fernandes faz uma proposta: “ Para quando instalar em Lisboa um museu, bem localizado no Aljube, abandonado com os seus “curros” e os seus “segredos”?

Para quando?

Quanto a mim – disponho-me a colaborar e talvez seja melhor isto do que estátuas e obeliscos por onde muita gente passaria desprevenidamente.”

Caro amigo, o governo Cabo-verdiano já cumpriu a promessa, hoje existe um museu no Tarrafal. A tua sugestão está quase a tornar-se realidade e é pena que não tivesses podido colaborar. Acredito que o Museu da Resistência ficará como tu desejaste.

abc





sexta-feira, 4 de março de 2011

A revolta no Levante

A extensão à Libia da revolta no Mundo Árabe, tem colocado vários problemas quer aos comentadores de Direita, pelas boas relações que mantinham recentemente com o regímen de Kadafi , quer pelos comentadores da esquerda pelo seu passado.


Fidel de Castro em 2 de Março de 2011, num artigo publicado pela ARGENPRESS.INFO diz:-A diferencia de lo que ocurre en Egipto y Túnez, Libia ocupa el primer lugar en el Índice de Desarrollo Humano de África y tiene la más alta esperanza de vida del Continente. La educación y la salud reciben especial atención del Estado. El nivel cultural de su población es sin dudas más alto. Sus problemas son de otro carácter. La población no carecía de alimentos y servicios sociales indispensables. El país requería abundante fuerza de trabajo extranjera para llevar a cabo ambiciosos planes de producción y desarrollo social. Ao mesmo tempo alerta para o perigo eminente das tropas da NATO, instigada pelos Estados Unidos, invadirem a Líbia e tomarem conta das suas riquezas:- o petróleo e o gás natural.
Aliás coincidência ou não as primeiras zonas libertadas na Cirenaica ( Bengazi) são as zonas do país mais ricas em petróleo.

O fim da II Guerra Mundial com o triunfo sobre o nazi-fascismo abriu novas esperanças a uma parte da humanidade que até aí estava excluída do progresso e da democracia com participação popular.
Surge a Republica Popular da China em 1949 e o triunfo da Revolução Cubana dez anos depois. Nasce o conceito de Terceiro Mundo, com a Liga Árabe, a Organização de Unidade Africana e o Movimento dos Países Não Alinhados ( 1955)
Aparecem novos líderes nacionalistas que iniciam uma grande batalha para a libertação nacional, a independência, a revolução, a democracia e o socialismo.
Nasceu então o conceito do socialismo árabe e do pan- arabismo de que Gamal Abdel Nasser ( 1918 a 1970), no Egipto, foi o expoente máximo ( ainda hoje venerado, no mundo árabe) seguido por Bem Bella, na Argélia e Habib Burguiba, na Tunísia.
Kadafi, na Líbia inspira-se nestes ideais e avança para a constituição de um estado moderno de orientação socialista, com base no poder popular, ultrapassando os limites impostos pelo tribalismo.
Depois de muitos anos no poder (42 anos) paulatinamente desmente-se, faz concessões e abre as portas à corrupção.
Em 1977, proclama a "Jamahiriya", que define a Líbia como um "Estado de massas" que ele governa através de comitês populares eleitos, atribuindo a si o título de "Guia da Revolução".
A loucura toma conta do líder/ ditador renuncia à ideia de governar uma república com instituições e cria a Al-Jamahiriyya al-‘Arabiyya al-Libiyya ash-Sha«biyya al-Ishtirakiyya al-Úzma, um país com um nome impronunciável, sem parlamento, sem leis governado hoje por uma arcaica estrutura de poder baseada no tribalismo e nas oligarquias familiares.

Estas últimas atitudes do Ditador Libio fazem - me lembrar Nicolae Ceauşescu, na Roménia que no fim do seu mandato apelidou-se de “ O Grande Caçador”.

Devido ao insucesso das formas de democracia ocidental e liberal muitas vezes considerada património da burguesia, muitos de nós na esquerda acreditámos que a mudança nestes países era um achado próprio da cultura árabe, quando na realidade tratava-se de uma mudança pior que o califato e mais insólito que os estados teocráticos e que agora se retrata no caos do tribalismo e do nepotismo.

Coloca-se de novo à reflexão da esquerda a pergunta: -Justifica-se sacrificar a LIBERDADE para tirar um país do atraso e da miséria? Os exemplos recentes da História dizem nos que não.
Kadafi deve ser julgado pelo estado a que conduziu a Líbia e o seu povo e não pelas suas intenções iniciais.

Ninguém desdiz que os imperialistas trabalharam incansavelmente durante décadas para acabar com os projectos revolucionários nascidos com a descolonização, mas também é certo que estes deram o flanco e lhes abriram as portas. A corrupção, os erros e o nepotismo puseram fim a uma etapa histórica que podia ter catapultado o mundo árabe no cume da civilização mas terminou mal.

Agora, aos olhos da Europa e dos Estados Unidos, Kadafi só tem defeitos e longe vão os dias em que todos os líderes ocidentais, sem excepção, beijavam a mão do Ditador; os empresários faziam negócios em Tripoli e os bancos principalmente italianos e alemães se enchiam dos depósitos feitos por funcionários líbios, parentes da família governante e elementos afins.

O Estados Unidos com ou sem aliados preparam-se para tomar conta da oitava reserva petrolífera mundial. O cerco está prestes a terminar.
A única oportunidade para os povos do Levante está na inovação, rompendo com Ben Ali, Mubarak e Kadafi mas também com a “ajuda” das tropas da NATO que já se mobilizou para dar aos povos árabes o beijo de Judas.
Dizem que os novos dirigentes instalados na Cirenaica, não querem armas, nem conselhos nem intervenção estrangeira. Oxalá assim seja.