sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Egipto é uma vela submersa no rio


DITADURAS AMIGAS



“Uma ditadura, a Tunísia? O Egipto, uma ditadura? Vendo os medias gritar agora a palavra “ditadura” aplicada à Tunísia de Ben Ali e ao Egipto de MoubaraK, os franceses devem-se ter questionado se tinham ouvido ou lido bem”.
Assim começa o artigo de Ignacio Ramonet : - Ces “dictatures amies”.

Eu acrescento… e os portugueses também. Com efeito os mesmos jornalistas, durante anos, chamaram-lhes, os países amigos (Tunísia, Egipto e Marrocos), os Estados moderados, graças a Deus, livres da Jihad Islâmica. Todos eram um bom destino de férias.

A hipocrisia e a dissimulação vigoravam nas chancelarias e nos media da Europa Democrática. Afinal, há muitos anos que sabiam que estes países tinham e têm regimes de opressão.

Pelo que me é dado ler, os governantes franceses têm o palmarés da desfaçatez e da falsidade, colocando-se muito à frente dos seus parceiros europeus e americanos.

Sarkozy teve a lata de dizer, em relação ao regime mafioso do clã Ben Ali-Trabelsi, que na Tunisia: “ existia um desespero, um sofrimento, um sentimento de asfixia de que, temos de reconhecer, não tínhamos sentido a medida exacta”.

Ao fim de 23 anos e apesar de toda a colaboração oficial e oficiosa com a antiga colónia, apesar de dissidentes tunisinos exilados em França, remetidos ao silêncio. “ Nous n’avions pas pris la juste mesure…” Imagine-se.

Esta atitude, por parte das autoridades francesas e europeias lembra-me o que se passava, não assim há tanto tempo, com as ditaduras fascistas na Europa.

Não devemos esquecer que muitos combatentes contra a ditadura de Salazar, estavam, nessa época, proibidos de entrar em França e muitos dos refugiados, como agora os tunisinos, estavam impedidos de se manifestar e eram silenciados pelos media.

O argumento cínico do perigo do comunismo que ontem justificou a atitude de benevolência e de colaboracionismo, das democracias europeias para com as ditaduras em Espanha, Portugal e Grécia, foi e é agora substituído pelo perigo do islamismo radical.

Para cúmulo, figuras bem pensantes de todo o Mundo, apoiam veladamente a repressão sobre o povo egípcio para nos proteger do perigo islâmico.
Estes intelectuais, num retorno ao conceito de raça superior, afirmam que os árabes não estão preparados para a democracia, não existindo nesses países uma tradição democrática (onde é que eu já ouvi isto!) como por exemplo nos países da Europa de Leste, que, segundo um deles chega a afirmar, está inscrito no ADN dos povos.

Os povos árabes em revolta, têm dado a todos nós um exemplo de civismo, reclamando: liberdade, Igualdade, democracia, progresso social, em manifestações desprovidas de qualquer simbologia religiosa. As suas aspirações políticas são as mesmas dos jovens das sociedades modernas esclarecidas.

Tenho esperança que mais um levantamento popular nacional, mesmo sem a ajuda dos militares, ponha fim a uma ditadura como aconteceu com a revolução dos Jasmins, na Tunisia.

Há uns anos, o poeta popular Ahmad Fouad Negm disse, quando lhe perguntaram porque é que o Egipto tinha perdido a posição de centro da cultura e do pensamento árabe e como se podia reverter esta situação:- “O Egipto é uma vela submersa no rio. Quando a terra escurece, o Egipto sai do rio e ilumina o Mundo”








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