sexta-feira, 3 de março de 2023

A DESIGUALDADE

 

A DESIGUALDADE PERSISTE


Anne d’Alègre (1565-1619), filha do Marquês d’Alègre e esposa do Conde de Laval foi portadora da primeira prótese dental conhecida até à época.

Descobertas recentes quando o seu corpo foi exumado no castelo de Laval, onde estava enterrado, foi sujeito em 1992 à realização de análises com a utilização de tecnologias modernas, nomeadamente com um scanner 3D de última geração, realizada por um Instituto francês de investigações arqueológicas e publicado no Journal of Archeological Science a 24 de janeiro último.

O interesse do estudo do esqueleto despertou o interesse da comunidade científica por mostrar a primeira prótese dentária da história, datada de há 450 anos.

A condessa tinha efetivamente perdido um dos incisivos superiores esquerdo (dente 21). O que convenhamos lhe prejudicava o sorriso e seria provavelmente motivo de chacota na corte de Henrique IV, onde o facto de ser protestante já lhe dificultava a sua presença.

Ambroise Paré cirurgião do Rei e contemporâneo de Anne d’Alègre dizia «se um doente era desdentado, a sua palavra era depravada»

O engenho dos “cirurgiões” da época e o dinheiro do conde conseguiram a realização desta prótese.  A prótese foi feita com marfim extraído de um dente de elefante e não de hipopótamo como se chegou a pensar e foi fixado com fios de ouro (material nobre e o mais bem suportado na boca) e por uma ligadura de contenção nos pré-molares. 

 Esta operação deve ter sido muito dispendiosa e só a bolsa do conde Laval a poderia pagar o que certamente não aconteceria com o comum dos mortais.

Segundo a autora principal deste trabalho a colocação desta prótese levou à instabilidade dos dentes vizinhos o que mesmo assim não impediu que a Condessa tivesse realizado três casamentos além de outras aventuras.

Passados tantos anos, após a Revolução Francesa, a Comuna de Paris, a revolução russa de 17 e o 25 de Abril, a prótese dentária e mais recentemente os implantes, devido ao seu preço continuam a ser uma marca de estatuto social. 



O acesso à saúde apesar de todas as grandes conquistas sociais e tecnológicas continua a ser um fator de desigualdade social e basta para isso vermos as reportagens televisivas com um número de desdentados o que não dá razão a Ambroise Paré, porque nem sempre as suas palavras são depravadas.

E senhores governantes, não pensem que é abrindo mais escolas de medicina dentária, já existem oito, que melhoramos a vida dos nossos desdentados, contribuímos sim para o fluxo migratório dos nossos jovens dentistas.



Não façam o mesmo erro com as escolas de Medicina porque também não é formando mais médicos que cobrimos as necessidades da nossa população.

ANNE D'ALÈGRE



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