quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CORTES NA SAUDE

CORTES NA SAUDE

A saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação (Juramento de Hipócrates)


A entrevista do ministro da Saúde ao “Jornal das 8” da TVI do dia 1 de Setembro foi no mínimo confrangedora.

Paulo Macedo prefere começar pelos cortes nas despesas de saúde em vez de reorganizar os serviços, aumentando a sua eficiência. Muito do desperdício dos sistemas de saúde, cerca de 20 a 40%,deve-se à ineficiência.

Assim, numa assentada, ataca-se os profissionais de saúde - com cortes nas horas extraordinárias e nos incentivos às equipas de colheita e transplante - e os doentes reduzindo - lhes benefícios básicos e aumentando preços.

É inadmissível que sejam os doentes a sofrer a nossa falta de organização e coordenação.

O corte de 50% nos incentivos aos transplantes é uma medida puramente economicista e que vai levar a uma diminuição do número de transplantes realizados no nosso país, regressando à vergonhosa situação de “ exportação de doentes”.

Esta filosofia que leva os decisores a propor modelos económicos que toma em conta a idade ou uma outra característica de um membro da nossa sociedade para lhes recusar certos cuidados de saúde, já se passa infelizmente em muitos serviços em Portugal e no estrangeiro e vai contra a deontologia médica.

É espantoso que seja uma equipa ministerial, que perfilha de uma forte formação católica, que vai por este caminho.



Desde a primeira transplantação realizada em Portugal, no ano de 1969, até aos dias de hoje, muita água correu no rio. As equipas de técnicos de saúde foram- se aperfeiçoando e não menosprezaram os problemas éticos e morais.

Vou apenas recordar o Kevin (nome fictício), nascido em Cabo Verde com uma malformação das vias biliares, que veio transferido para o Portugal. Após tratamentos médicos e cirúrgicos, a única solução era a transplantação hepática.

Em Portugal não havia pratica de transplantes de fígado em crianças tão pequenas. Decidimos contactar o grande Centro Europeu de Transplantações na Bélgica. Os custos da operação eram tão elevados que a Embaixada de Cabo Verde nos respondeu que com esse dinheiro vacinavam todas as crianças do arquipélago. A desilusão e o desespero instalaram-se nos cirurgiões do serviço.

De Coimbra veio uma esperança. A equipa do Prof. Linhares Furtado, apesar de com pouca experiência nesses casos, ia fazer a intervenção. Foi um sucesso e esta história teve um final feliz.

A primeira transplantação de órgão de cadáver, em Portugal, foi realizada em Coimbra em 1969. Na altura, segundo o consultor jurídico, de então, da Ordem dos Médicos, os cirurgiões foram alertados de que incorriam numa pena de oito anos de prisão. Contudo, já em muitos países se realizavam transplantações e a sociedade médica entrava no que foi chamada a “ grande aventura do século XX”.

Em Portugal, só a partir do fim dos anos 80 é que os insuficientes renais deixaram de ser transplantados fora do país e à custa do erário público.

O Ministério da Saúde nomeou agora mais uma comissão para a reestruturação da rede hospitalar do Serviço Nacional de Saúde. Mais uma! Já perdi a conta! Mas esta tem uma característica especial: não foi convidado a participar nenhum enfermeiro!

Quanto aos transplantes, antes de tomarem mais decisões, sugiro que leiam o livro do Prof. Linhares Furtado, Transplantação de órgãos abdominais em Coimbra (contributos para um projecto nacional) Coimbra 2010.

Não sei se o número de transplantações realizadas no nosso país tem alguma influência no PIB, mas tenho a certeza que salva mais vidas.
Já referenciado em artigos anteriores, relembro a resolução 58.33 da Assembleia Mundial da Saúde:



 Obter o máximo rendimento das tecnologias e serviços de saúde

 Motivar os trabalhadores de saúde

 Melhorar a eficiência hospitalar

 Obter os cuidados correctos no primeiro contacto, por redução do erro médico

 Eliminar o desperdício e a corrupção

 Avaliar de modo crítico quais os serviços necessários



Para que todos tenham acesso a serviços de saúde, sem necessidade de sacrifícios financeiros pessoais.

1 comentário:

  1. Gostei muito deste post. Temos um governante na Saúde que percebe muito de números mas muito pouco de pessoas. A saúde é o bem mais precioso e sem ela não há nada.

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