domingo, 22 de abril de 2012


OH GENTES DA MINHA TERRA!

O que se passa neste país onde o medo se instalou? 

O que é feito das gentes, das sucessivas gerações, que enfrentaram a besta fascista e a sua polícia politica?


Quando eu era jovem, mesmo perante um discurso oficial de um ministro ou de algum agente do governo com que não estivéssemos de acordo, alguém se levantava e punha em questão, arriscando perseguições, prisões ou exilio. 
Assim foram os estudantes que participaram nas greves de 27, 34, 58, 62 e 69. 
Assim foram os operários das cinturas industriais de Lisboa e Porto, os operários do Barreiro, os operários agrícolas do Ribatejo e Alentejo.
Assim foram os camponeses do Norte na luta em defesa dos baldios, tão bem descrita por o mestre Aquilino, em Quando os Lobos Uivam.
Assim foram os militares de Abril que puseram fim às guerras coloniais e libertaram este país dando a machadada final no fascismo.
Hoje trinta e oito anos depois do 25 de Abril de 1974, os Lobos continuam a uivar e o medo instalou-se.


Um dos programas que eu conseguia ver com uma certa assiduidade era o “eixo do mal”. Mas neste último que resolveram falar sobre o encerramento da MAC sem se quer terem-se dado ao trabalho de se informar para se prepararem minimamente foi um desastre. Aliás a maioria dos comentadores políticos não se preparam para nada vão debitando o que leram nos jornais: - Financial Times, El País, Le Monde. New York Times, Economists.

Voltando ao último programa do “eixo do mal”, fiquei a saber que o ministro da saúde era o “melhor ministro deste governo” e era um homem sério que não cedia a lobies, aliás ele é “independente”. O homem do bloco de esquerda ainda esboçou uma crítica ao encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) e adiantou que o ministro tinha sido administrador da seguradora MEDIS, o que por si só não quer dizer nada.

Na altura em que os media relatavam o anuncio do encerramento da MAC, e entrevistavam o ministro à saída do edifício, ele vinha acompanhado por um distinto médico, Prof. Linhares Furtado, o pai dos transplantes em Portugal. Mas por desconhecimento ou não, ninguém lhe perguntou o que estava ali a fazer? 

 Tinha-lhe sido atribuído, com toda a justeza, o “ Premio Nacional de Saúde 2011” . O galardoado é um homem conservador e estruturalmente de direita e sempre o foi, mas aproveitou a presença dos três governantes da pasta da saúde para dizer umas verdades.

Citando estudos publicados na Inglaterra, onde a destruição do National Health Service, mostram que os profissionais que aí trabalham estão calados e com medo e que o nosso SNS pode ir pelo mesmo caminho se não houver “ retração dos limites da gestão politica na área da saúde”.



 “ Relatórios pouco divulgados mas altamente credíveis, um deles em particular, revelam muitas mortes ocorridas numa determinada unidade hospitalar, sublinham os efeitos das ações administrativas sobre o comportamento social de medo e silencio dos protagonistas, médicos e não médicos, nesses hospitais” . Chamando os protagonistas à razão disse: “ É exemplo objetivo e inaceitável que o poder politico, através de uma cadeia administrativa de dependência fortemente politizada, se prolongue até à seleção das direções dos serviços de ação médica “ No campo dos princípios acrescentou no seu discurso: - “ é intolerável o desrespeito pelo princípio da competência que na prática se vê frequentemente triturado nas malhas das ramificações político-administrativos periféricas e outras de matizes multicolores” apesar de tudo este médico não perdeu ainda a esperança: ”há ainda neste país quem saiba ouvir, refletir e decidir”. A notícia deste acontecimento importante, a atribuição do Prémio Nacional de Saúde, não saiu em nenhum órgão de expansão nacional. Estes extratos são retirados de um jornal médico, o Tempo Medicina, de 16 de Abril de 2012.

Será que este ministro não quer destruir o serviço nacional de saúde?

Deixo à vossa apreciação



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