OH GENTES DA MINHA TERRA!
O que se passa neste país
onde o medo se instalou?
O que é feito das gentes,
das sucessivas gerações, que enfrentaram a besta fascista e a sua polícia
politica?
Quando eu era jovem, mesmo
perante um discurso oficial de um ministro ou de algum agente do governo com que
não estivéssemos de acordo, alguém se levantava e punha em questão, arriscando
perseguições, prisões ou exilio.
Assim foram os estudantes
que participaram nas greves de 27, 34, 58, 62 e 69.
Assim foram os operários das
cinturas industriais de Lisboa e Porto, os operários do Barreiro, os operários
agrícolas do Ribatejo e Alentejo.
Assim foram os camponeses do
Norte na luta em defesa dos baldios, tão bem descrita por o mestre Aquilino, em
Quando os Lobos Uivam.
Assim foram os militares de
Abril que puseram fim às guerras coloniais e libertaram este país dando a
machadada final no fascismo.Hoje trinta e oito anos depois do 25 de Abril de 1974, os Lobos continuam a uivar e o medo instalou-se.
Um dos programas que eu
conseguia ver com uma certa assiduidade era o “eixo do mal”. Mas neste último
que resolveram falar sobre o encerramento da MAC sem se quer terem-se dado ao
trabalho de se informar para se prepararem minimamente foi um desastre. Aliás a
maioria dos comentadores políticos não se preparam para nada vão debitando o
que leram nos jornais: - Financial Times, El País, Le Monde. New York Times,
Economists.
Voltando ao último programa
do “eixo do mal”, fiquei a saber que o ministro da saúde era o “melhor ministro
deste governo” e era um homem sério que não cedia a lobies, aliás ele é “independente”.
O homem do bloco de esquerda ainda esboçou uma crítica ao encerramento da Maternidade
Alfredo da Costa (MAC) e adiantou que o ministro tinha sido administrador da seguradora
MEDIS, o que por si só não quer dizer nada.
Na altura em que os media relatavam o anuncio do encerramento
da MAC, e entrevistavam o ministro à saída do edifício, ele vinha acompanhado
por um distinto médico, Prof. Linhares Furtado, o pai dos transplantes em
Portugal. Mas por desconhecimento ou não, ninguém lhe perguntou o que estava
ali a fazer?
Tinha-lhe sido atribuído, com toda a justeza,
o “ Premio Nacional de Saúde 2011” . O galardoado é um homem conservador e
estruturalmente de direita e sempre o foi, mas aproveitou a presença dos três
governantes da pasta da saúde para dizer umas verdades.
Citando estudos publicados
na Inglaterra, onde a destruição do National Health Service, mostram que os
profissionais que aí trabalham estão calados e com medo e que o nosso SNS pode
ir pelo mesmo caminho se não houver “ retração dos limites da gestão politica
na área da saúde”.
“ Relatórios pouco divulgados mas altamente
credíveis, um deles em particular, revelam muitas mortes ocorridas numa
determinada unidade hospitalar, sublinham os efeitos das ações administrativas
sobre o comportamento social de medo e silencio dos protagonistas, médicos e
não médicos, nesses hospitais” . Chamando os protagonistas à razão disse: “ É
exemplo objetivo e inaceitável que o poder politico, através de uma cadeia
administrativa de dependência fortemente politizada, se prolongue até à seleção
das direções dos serviços de ação médica “ No campo dos princípios acrescentou
no seu discurso: - “ é intolerável o desrespeito pelo princípio da competência
que na prática se vê frequentemente triturado nas malhas das ramificações
político-administrativos periféricas e outras de matizes multicolores” apesar
de tudo este médico não perdeu ainda a esperança: ”há ainda neste país quem saiba
ouvir, refletir e decidir”. A notícia deste acontecimento importante, a
atribuição do Prémio Nacional de Saúde, não saiu em nenhum órgão de expansão
nacional. Estes extratos são retirados de um jornal médico, o Tempo Medicina,
de 16 de Abril de 2012.
Será que este ministro não
quer destruir o serviço nacional de saúde?
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