sábado, 23 de fevereiro de 2013




A DEMOCRACIA
  
Jamais on ne corrompt le peuple, mais souvent on le trompe, et c'est alors seulement qu'il parait vouloir ce qui est mal
 Rousseau J.J.;Contrat social, livre II, chap.III, ed. Citée,pg64

Cantou-se Grândola Vila Morena nas galerias do Parlamento e esta canção do Zeca Afonso renasceu e atravessou fronteiras.
O povo é quem mais ordena, volta a ser a voz dos indignados, daqueles que querem participar na construção do seu país e não os deixam.

Se relembrarmos os socialistas românticos, como Rousseau, vimos que eles de uma forma clarividente alertavam os seus contemporâneos para os governos da “volonté de tous”.

Sobre a democracia representativa, este “terrível terrorista” sublinhava, como uma notável evidência, que nunca poderia existir soberania e liberdade politicas sem a intervenção consciente e ativa do conjunto dos cidadãos.
A propósito do regime parlamentar inglês, Rousseau escrevia: “ Le peuple anglais pense être libre, il se trompe fort; il ne l'est que durant l'election des membres du parlement: sitôt qu'ils sont élus, il est esclave, il n'est rien” (in Contrato social).

Os arautos da defesa da democracia parlamentar querem perpetuar um regime que possa ludibriar um povo pelo menos durante quatro anos e voltar a fazê-lo por mais outros quatro.
Durante o período eleitoral há um contrato mútuo entre os cidadãos e aqueles que se propõem representá-los. Quando estes (os governantes) quebram o contrato, como tem feito o atual governo, tudo no melhor do mundo para estes senhores.
Mas se o povo quer quebrar o contrato, porque se sente enganado, isso não é possível, tem de se sujeitar a uma espécie de fidelidade contratual por quatro penosos anos.

Voltemos ao Contrato social: “les deputés du peuple ne sont donc ni ne peuvent être ses représentants, ils ne sont pas que ses commissaires; ils ne peuvent rien conclure définitivement. Toute loi que le peuple en personne n'a pas ratifiée est nulle; ce n’est point une loi.”
O que diria o pobre Jean Jacques se vivesse na Europa de hoje!

Alguns dos atuais socialistas, aqueles que enterraram para sempre o socialismo num caixão e aderiram alegremente ao capitalismo, claro sem ser o selvagem, renegam o pensamento desse e de outros filósofos do século XVIII, ainda hoje tão vivos.

Como pediatra, ensino sempre aos pais, na minha consulta, que nunca devem mentir aos filhos.
Se estabelecem com os filhos um contrato, como por exemplo prometendo-lhes uma prenda se se portarem bem, e se querem que eles os respeitem (como os filhos devem respeitar os pais), deverão cumprir a sua palavra para que mais tarde os filhos não se revoltem.

O que se passa com os nossos governantes é o mesmo. Mentiram descaradamente não cumprindo as promessas eleitorais, apresentam ministros falsários, roubam descaradamente os ordenados e as pensões de reforma dos trabalhadores, retiram regalias sociais, aumentam as taxas moderadoras nos estabelecimentos de saúde, sobem as propinas, cortam nas bolsas de estudantes, fazem subir o desemprego e isto tudo às ordens das Ditaduras de Bruxelas e da Troika. Isto é que é violência!
Mas se os cidadãos protestam e ordeiramente vão cantar uma canção de protesto nas galerias do Parlamento, ai Jesus que a Democracia está em perigo.

Saiam dos seus lugares de parlamentares em Lisboa ou em Bruxelas, desçam dos seus belos carros e oiçam o ruído da rua, o mundo está a mudar.




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