segunda-feira, 25 de setembro de 2017


IN MEMORIAM  Abílio Mendes

O meu pai Abílio Mendes foi sem dúvida um pediatra e um pedagogo muito à frente do seu tempo
.
O fascismo conseguiu impedi-lo de trabalhar nos hospitais públicos e em todos eles - Santa Marta, Dona Estefânia e Santa Maria - exerceu sempre, sem remuneração, a sua profissão como assistente voluntário.

A sua vocação de pedagogo concretizou no consultório e nas consultas da Companhia Nacional de Electricidade, mais tarde EDP. Como gostava de dizer, quando não aceitou o lugar de deputado, pelo Partido Socialista,  para a Assembleia Constituinte,:- "propago melhor o ideal socialista, ensinando aos  pais das crianças puericultura e pediatria".

Abílio Mendes foi essencialmente um pedagogo e um precursor da nova pediatria dando especial importância ao desenvolvimento da criança, ensinando as mães, " a primeira pedagoga do mundo social",como era hábito dizer, a educar os seus filhos num ambiente afectivo.

Lembro-me que dizia aos pais que não estivessem preocupados com o aumento de peso dos filhos, como ainda hoje assistimos num autentico ranking de percentis, mas sim com o desenvolvimento cognitivo. Vale mais educar que engordar!

Muitas das suas ideias são hoje confirmadas pelo estudos das neuro ciências.

Vejamos a importância que dava ao tacto, quando escrevia no boletim da EDP,do natal de 1964 :- "..os dedos vão iniciar o registo de impressões através dos lábios, ....Prender as mãos que se lambuzam freneticamente é amputar temporariamente os membros e amputar nunca! Estas mãozinhas  que guardam na polpa dos dedos impressões multiformes nunca seriam castigadas pelos seus progenitores ou pelos carrascos sem que o homem sentisse a mais infamante culpa: mutilar a fonte de energia mais prodigiosa. Essas mãos, tornadas adultas, traduzirão do cérebro humano a espiritualização maravilhosa da matéria. De Fideas a Miguel Ângelo, de Bach a Beethoven, de Copérnico a Einstein, o mundo contempla a mais prodigiosa obra da mão que nasceu vazia com a consciência do Ser na aurora da Vida."

Contrariava o hábito de calçarem luvas aos bebes para não se arranharem na cara e de segurarem as mãos durante as refeições para não sujarem a mesa.

Recentes descobertas em neuro-pediatria afirmam que nos devemos fixar sobre o jogo de mãos do recém-nascido em vez da cara e do olhar. Os investigadores concluíram quando observaram o comportamento de crianças cegas em que os pais sofriam por não poderem comunicar. Os cientistas incitaram os pais a lerem nas mãos e não no facies do seu filho.Os sinais de interesse que esperávamos encontrar nos olhos estão presentes e lisiveis quando dissociamos os olhos das mãos.
A tendência é fixar-se  na face e olhar dos bebés




No centro clínico da EDP com a enfermeira Edite Cardoso Pires

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