segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

AMIGOS DO PÂO DE AÇUCAR




Após ler o relato do meu amigo Raimundo, no blogue caminhodamemória, sobre os amigos do Pão de Açúcar, lembrei-me de publicar a foto anexa, datada de 1963 (se a memória não me falha).
A foto foi tirada nas instalações do Técnico, após um jogo de football, onde alguns já estariam a pensar numa boa preparação física para fugir à PIDE ou resistir à tortura.
Quase todos os que estão nesta foto foram presos, exilaram-se ou entraram na clandestinidade.
Já não me lembro bem de todos os nomes, mas consigo reconhecer além de mim, em baixo, o primeiro à esquerda, o Raimundo, Mário Lino, Rui Martins, Joaquim Letria, Carlos Marum, Hernâni Pinto Bastos; em cima: Fernando Rosas, Marília Cabral, Paula, Noémia, Teresa Tito Morais, Resende, Albano Freire Nunes, Marques dos Santos, etc...
O café onde nos reuníamos, coexistiam o grupo da politica, o grupo dos artistas Belas Artes e Conservatório (músicos e teatro), que muitas vezes se envolviam em grandes discussões politico-filosóficas, além do grupo de informadores da PIDE e Legião, constituído por ex pegadores de touros, chulos e guarda-costas. Um era tão baixinho, que lhe chamavam "o guarda cus".
Lisboa, nessa altura, tinha muitas tertúlias de cafés...  Só nas chamadas "avenidas novas" havia, além deste, o grupo da Copacabana, Mexicana, do Londres, Suprema, Vává, Luanda e mais perto da cidade universitária o Nova Iorque e o Tatu.
Em 1964, na altura da grande vaga de prisões de estudantes, devido à traição do funcionário do Partido Comunista, Nuno Alvares Pereira, fugi para a Suíça onde permaneci até Abril de 1974 (9 anos).
Quando regressei fiquei a residir, uns tempos, em casa dos meus pais na Alameda D. Afonso Henriques, onde se situa o Pão de Açúcar. Uma bela manhã fui tomar café ao balcão do célebre estabelecimento e encontrei um dos frequentadores assíduos, que tinha sido corredor de automóveis (outro grupo existente), e abordou-me perguntando: - Por onde tens andado que não te vejo há tanto tempo?
Respondi: - Estive na Suíça.
Ao que ele retorquiu rapidamente: - Parece que houve lá uma bronca com o MRPP?!
Percebi que nem lhe passava pela cabeça que eu tivesse estado, aqueles anos todos na Confederação Helvética, mas sim tivesse "emigrado" para a Pastelaria Suíça juntando-me a outra tertúlia, o que seria mais lógico no "ram-ram"  lisboeta da época...

Sem comentários:

Enviar um comentário