sábado, 5 de maio de 2012

PINGO DOCE


S. JERÓNIMO … MARTINS

                                               (o benfeitor)



O dono da pastelaria, onde costumo tomar o meu café da manhã, juntamente com Manuel Villaverde Cabral, Lobo Xavier e mais 2 colunistas do jornal I, acharam uma ótima ideia  a ação do Pingo Doce no 1º de Maio, sem nada de criticável, mesmo até louvável. Pois não deram a possibilidade a muitos portugueses fustigados pela crise de puderem encher as suas dispensas com produtos alimentares?

Comparar esta ação com os saldos em Paris, francamente Manuel Villaverde Cabral (não confundir com o meu afilhado o historiador com o mesmo nome) ….

Assisti, em Junho de 1967, na Suíça, a um açambarcamento, quando da guerra israelo-árabe, em que foi lançado o pânico, nas populações helvéticas, do perigo de um confronto generalizado e em que eram distribuídos papéis com informações dos mantimentos que se deveriam levar para os abrigos antiaéreos.
A guerra só durou 6 dias, mas os supermercados ficaram vazios durante vários dias, até ser reposto o stock. Também isto em nada pode ser comparado com a ação do merceeiro Manel dos Santos, aliás aqui não houve rotura de stocks no dia 2 de Maio todos os super funcionavam normalmente.

Será que estes doutos comentadores, sociólogos, economistas, jornalistas, politólogos que propagandeiam a ação do S. Jerónimo querem também ter um cartaz pendurado, como tem a Zita Seabra e o António Barreto, nas lojas do Pingo Doce a anunciarem os vinhos? Continuem que vão certamente ser presenteados.

Na altura dos meus avós, a mercearia do bairro vendia fiado a muitas famílias da classe média que viveram as crises dos anos trinta e da guerra. Também nessa altura as pensões dos militares, como no caso das minhas avós maternas, foram cortadas por Salazar o que logicamente fez baixar o poder de compra. Muitas destas famílias endividaram-se e alguns merceeiros deste país enriqueceram.

O que se passou no dia 1º de Maio, com a jogada do Pingo Doce foi grave. Não há dúvida que se tratou de uma provocação aos trabalhadores deste país já que as grandes superfícies tinham sido estigmatizadas por estarem abertas no feriado obrigando os seus empregados a trabalharem. E de certeza que trabalharam muito mais que nos outros dias.

O merceeiro quis mostrar como o povão, como dizem os brasileiros, se rendem a um prato de lentilhas e passam horas nas filas para obter um desconto de 50% nas compras superiores a cem euros.
E resultou, ficaram com a dispensa cheia mas sem dinheiro para pagar eletricidade, a renda da casa , etc...
Uma senhora afirmou que esteve seis horas na fila da caixa para pagar, porque muitas pessoas pagavam com cheques ou cartões e o dinheiro dos magros salários ainda não tinham entrado no banco. Por isso L. Xavier, não foi por ser o primeiro dia do mês, que foi montada esta ação. 


O consumismo é próprio do capitalismo, não é da democracia e os trabalhadores não trabalham só para consumir, como disse Villaverde Cabral. Eu sei que hoje se tenta colar as duas coisas:-democracia/capitalismo, mas não é verdade.

Deixo aos economistas fazerem as contas desta jogada que deve ter sido fabulosa, acho que o benemérito arrecadou 90 milhões de euros! Boa! E vai tudo para a Holanda.

Pessoalmente chocou-me a multidão de gente que teve de estar mais de dez horas à espera para ter um desconto de 50% com produtos que muitos deles devem estar a chegar ao fim da validade. Nesta gente há muito “chicoespertismo” e muita falta de cidadania, mas também e sobretudo muita necessidade. Foi a classe média baixa, que já não é classe média, que correu desenfreadamente aos supermercados Pingo Doce na miragem de uma boda aos pobres que não foi.

Veio me também à memória, a última aula do Prof. Fanconi, pediatra de grande renome internacional, em Lausanne, nos idos anos de 1971. 
Em vez de dissertar sobre um assunto clássico e livresco da pediatria, contou a sua ida a um congresso internacional em Bogotá. Como é hábito, nestes momentos de convívio, o Prof. de Pediatria Colombiano ofereceu aos seus convidados, um soberbo churrasco numa enorme herdade, sua propriedade. Em determinado momento, o Professor suíço teve de ir à casa de banho e teve um enorme choque, que pelos visto nunca esqueceu: - Os restos estavam a ser despejados nas traseiras da casa aos pobres camponeses, como se de cães se tratasse.

Há talvez nesta comparação de imagens muito esquerdismo da minha parte, mas foi isso que senti quando o merceeiro “ofereceu “ alimentos abaixo do preço de mercado.

Mas não será o que se passou na Colômbia, certamente com trajes europeus, o mesmo que este governo quer: o assistencialismo?

Também na Colômbia, havia certamente intelectuais que argumentariam: “é melhor que os camponeses comam restos do que passem fome”.












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