Cuidado com os chazinhos
Muitos amigos meus recorrem às infusões de plantas
vendidas em ervanários para a cura das suas maleitas.
A pouco e pouco foi – se, sub-repticiamente, impondo a
ideia que os medicamentos são os químicos e os chazinhos são puros naturais,
por isso, se não fazem bem também não fazem mal.
A ideia estabelecida no início do seculo XX que o evoluir
da ciência e assim da medicina impor-se-ia de tal forma que as crendices e as
chamadas “medicinas doces” seriam afastadas para sempre. Pura utopia, cada vez
mais o cidadão dos países ditos desenvolvidos recorre a este tipo de medicina. Estudos
realizados quer nos Estados Unidos quer na Europa alertam para uma procura cada
vez maior da fitoterapia mesmo em crianças e mulheres gravidas.
Uma das mais em voga atualmente em muitos países é a
fitoterapia.
A diretiva comunitária 2004/24/EC do parlamento europeu e
do conselho de 31 de Março de 2004, tenta regulamentar os medicamentos
tradicionais à base de plantas para uso humano.
Não conheço profundamente como se processa o registo dos
medicamentos à base de plantas, contudo o INFARMED tem regularmente, por
intermédio dos seus boletins, informados os médicos sobre as indicações e
contraindicações de tais medicamentos.
Este meu post serve para alertar que nem todos os
chazinhos são inócuos e que de todas as formas devem ser referidos aos médicos
quando da colheita da história clinica. Pois, muitos deles interferem na coagulação
ou com certos anestésicos. Também é obrigação dos médicos questionarem os
doentes sobre a ingestão de medicamentos à base de plantas.
Muitas destes produtos são hepatotóxicos, nomeadamente os
mais usados como especialidades indicadas para o bem-estar, para os distúrbios
gastrointestinais, da menopausa e de emagrecimento. Ver o artigo de Licata A. e colaboradores: “ Herbal
hepatotoxicity: a hidden epidemic. No Intern.Emerg. Medicine., 2012 April 4”
O chá verde, por exemplo, reputado pelas múltiplas propriedades
terapêuticas e consumido em todo o Mundo, foi considerado suspeito em 58 casos
de hépatotoxicidade. Na maior parte dos casos os pacientes tomavam “
complementos alimentares” sob a forma de comprimidos ou capsulas contendo
fortes doses de epigalocatequina galato, antioxidante potente existente no chá
verde. Sosseguem os bebedores de chá verde, porque em pequenas ou médias
quantidades, tais como existem nas infusões, nunca foi referenciado qualquer
problema.
A valeriana, erva de S. João, a planta medicinal chinesa
Jin Bu Huan, comercializada pelos seus efeitos contra a depressão ou sedativos,
foi sinalizada em casos de hepatite aguda ou cronica.
São, porém, os produtos recomendados para a perda de
peso, que estão melhor estudados.
Estes produtos contêm substâncias já proibidas em vários
países, como a efedra que provoca
alterações do ritmo cardíaco, o hidroxycut
causador de problemas hepáticos e renais, etc….
O consumo destes produtos, de fácil compra na internet,
pode vir a aumentar com o aparecimento crescente de casos de obesidade.
A hepatotoxicidade nem sempre vem da planta, como o
ilustra uma observação publicada recentemente sobre o Ginseng, um dos produtos
com maior expansão. O doente, com leucemia cronica, estava também a ser tratado
com imatinib (utilizado no tratamento
das leucemias). Se o Ginseng não é hepatotóxico, é conhecido por inibir o
CYP3A4, a enzima principal implicada no metabolismo do imatinib.
Os doentes devem ser esclarecidos de todos estes riscos,
os médicos devem ser informados pelas autoridades competentes e os ensaios
devem ser rigorosos segundo os princípios da medicina baseada na evidência.
Muito elucidativo,obrigada pela informação.
ResponderEliminarNão que eu seja muito dada ao uso destes medicamentos mas serve para alertar os outros.Continua a dar-nos bons conselhos.
Obrigado por continuares a ser uma fiel seguidora do blogue
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