quinta-feira, 10 de maio de 2012

FITOTERAPIA


Cuidado com os chazinhos


Muitos amigos meus recorrem às infusões de plantas vendidas em ervanários para a cura das suas maleitas.

A pouco e pouco foi – se, sub-repticiamente, impondo a ideia que os medicamentos são os químicos e os chazinhos são puros naturais, por isso, se não fazem bem também não fazem mal.

A ideia estabelecida no início do seculo XX que o evoluir da ciência e assim da medicina impor-se-ia de tal forma que as crendices e as chamadas “medicinas doces” seriam afastadas para sempre. Pura utopia, cada vez mais o cidadão dos países ditos desenvolvidos recorre a este tipo de medicina. Estudos realizados quer nos Estados Unidos quer na Europa alertam para uma procura cada vez maior da fitoterapia mesmo em crianças e mulheres gravidas.

Uma das mais em voga atualmente em muitos países é a fitoterapia.

A diretiva comunitária 2004/24/EC do parlamento europeu e do conselho de 31 de Março de 2004, tenta regulamentar os medicamentos tradicionais à base de plantas para uso humano.

Não conheço profundamente como se processa o registo dos medicamentos à base de plantas, contudo o INFARMED tem regularmente, por intermédio dos seus boletins, informados os médicos sobre as indicações e contraindicações de tais medicamentos.

Este meu post serve para alertar que nem todos os chazinhos são inócuos e que de todas as formas devem ser referidos aos médicos quando da colheita da história clinica. Pois, muitos deles interferem na coagulação ou com certos anestésicos. Também é obrigação dos médicos questionarem os doentes sobre a ingestão de medicamentos à base de plantas.

Muitas destes produtos são hepatotóxicos, nomeadamente os mais usados como especialidades indicadas para o bem-estar, para os distúrbios gastrointestinais, da menopausa e de emagrecimento. Ver o artigo de Licata A. e colaboradores: “ Herbal hepatotoxicity: a hidden epidemic. No Intern.Emerg. Medicine., 2012 April 4”
O chá verde, por exemplo, reputado pelas múltiplas propriedades terapêuticas e consumido em todo o Mundo, foi considerado suspeito em 58 casos de hépatotoxicidade. Na maior parte dos casos os pacientes tomavam “ complementos alimentares” sob a forma de comprimidos ou capsulas contendo fortes doses de epigalocatequina galato, antioxidante potente existente no chá verde. Sosseguem os bebedores de chá verde, porque em pequenas ou médias quantidades, tais como existem nas infusões, nunca foi referenciado qualquer problema. 
A valeriana, erva de S. João, a planta medicinal chinesa Jin Bu Huan, comercializada pelos seus efeitos contra a depressão ou sedativos, foi sinalizada em casos de hepatite aguda ou cronica.
São, porém, os produtos recomendados para a perda de peso, que estão melhor estudados.
Estes produtos contêm substâncias já proibidas em vários países, como a efedra que provoca alterações do ritmo cardíaco, o hidroxycut causador de problemas hepáticos e renais, etc….
O consumo destes produtos, de fácil compra na internet, pode vir a aumentar com o aparecimento crescente de casos de obesidade.

A hepatotoxicidade nem sempre vem da planta, como o ilustra uma observação publicada recentemente sobre o Ginseng, um dos produtos com maior expansão. O doente, com leucemia cronica, estava também a ser tratado com imatinib (utilizado no tratamento das leucemias). Se o Ginseng não é hepatotóxico, é conhecido por inibir o CYP3A4, a enzima principal implicada no metabolismo do imatinib. 

Os doentes devem ser esclarecidos de todos estes riscos, os médicos devem ser informados pelas autoridades competentes e os ensaios devem ser rigorosos segundo os princípios da medicina baseada na evidência.

 

2 comentários:

  1. Muito elucidativo,obrigada pela informação.
    Não que eu seja muito dada ao uso destes medicamentos mas serve para alertar os outros.Continua a dar-nos bons conselhos.

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