quinta-feira, 25 de janeiro de 2018






A FUGA DE CEREBROS
"Este parte, aquele parte e todos e todos se vão ...."
Cantar da emigração

Os mais velhos lembram-se, ainda, da magnifica voz de Adriano Correia  de Oliveira que interpretou o Cantar de Emigração com letra de Rosália de Castro e música de José Niza.
A saída massiva de jovens sobretudo do Norte de Portugal e da Galiza, fugidos da fome e da guerra colonial, zonas castigadas pelo êxodo, regiões que ficaram sem homens "que podem cortar teu pão".
Nos anos sessenta Paris era considerada a segunda cidade do país, com maior concentração de portugueses.  
Uma semana antes de passar a fronteira a salto para fugir de ser preso pela PIDE, tinham atravessado de uma vez, por essa fronteira, trinta jovens minhotos que seguiam clandestinamente para trabalhar em França, e em que condições! atravessaram a Espanha e transpuseram os Pirenéus.
 Hoje, volvidos cinquenta anos, com a liberdade conquistada, a descolonização e o desenvolvimento do país. O terceiro D da revolução de Abril, nunca completamente realizado.
Assistimos ao êxodo de jovens com formação universitária que deixam o país outra vez sem mulheres e homens que possam cortar o seu pão.
A fuga de cérebros é uma emigração em massa de indivíduos com aptidões técnicas ou de conhecimentos, normalmente devido a fatores como conflitos étnicos e guerras, falta de oportunidade, riscos à saúde e instabilidade política nestes países. Uma fuga de cérebros é geralmente considerada custosa economicamente, uma vez que os emigrados obtiveram suas formações de maneira patrocinada pelo governo.
A fuga de cérebros pode ser estagnada, através do fornecimento de conhecimento científico para a sociedade para que ela tenha oportunidades de carreira iguais e dando-lhes oportunidades de provar as suas capacidades.  O termo foi usado para descrever a fuga de cientista no pós guerra da Europa para a América do Norte. ( definição dada por Wikipedia)

No nosso país, a saída massiva de técnicos, entre os quais profissionais de saúde médicos e enfermeiros, deve-se às más condições de trabalho, falta de oportunidade destruição de carreiras e baixos salários.
A troika impôs-nos despedimentos e cortes salariais e este governo foi muito para além das medidas impostas o que levou ao aumento nunca visto de desempregados.
O estudo, coordenado por Tiago Reis Marques, ele próprio a trabalhar no King´s College, em Londres e  publicado na Acta Médica Portuguesa, revista cientifica da Ordem dos Médicos chega a resultados preocupantes, que os nossos governantes devem tomá-los em conta e não assobiar para o lado como é costume.
Quatrocentos mil euros é quanto custa ao país formar um médico e cerca de 60% de estudantes, admite emigrar e o numero aumenta para 74% quando se interrogam os internos no ultimo ano da especialidade.
Estes números vem provar o que há muito a Ordem dos Médicos alertava.  O numero de pedidos de atestados para exercer medicina no estrangeiro tem vindo a aumentar, só na região sul os pedidos atingem no primeiro quadrimestre de 2015, uma média mensal de 22 atestados.
Há muito que os médicos perceberam a politica deste governo, formação em massa de médicos indiferenciados para numa lógica puramente economicista da lei da oferta e da procura oferecer baixos salários.
A promessa do Ministro em dar um médico de família a um milhão de portugueses, até ao fim do mandato ficou nisso mesmo, uma Promessa.
A contratação de médicos reformados revelou - se um fracasso porque as verdadeiras causas das reformas antecipadas, degradação dos serviços médicos, não foram compreendidas.
Este período, pré eleitoral faz lembrar outra canção também cantada por Adriano o Sr. Morgado, para quem não conheça cito uma das estrofes Topa um influente, sou um seu criado/ Eleições à porta, seja Deus louvado/ Seja Deus louvado/ Seja Deus louvado.
A fuga dos cérebros não se limita apenas aos médicos e aos enfermeiros onde as agências estrangeiras vêm ao nosso país proceder ao seu recrutamento. 
A porta da emigração estende-se a outros profissionais com habilitações superiores.
O Conselho Nacional das Ordens Profissionais C.N.O.P.,  que representa 16 Ordens Profissionais e mais de 300 mil profissionais redigiu em 9 de Junho de 2015 uma carta dirigida ao Primeiro-Ministro dando conta da remuneração de profissionais qualificados oferecidas pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) consideradas ofensivas da dignidade destes jovens.
Assim, a carta dá conhecimento de um anuncio publicado no jornal Diário de Notícias, em 16 de Abril deste ano:
" Um engenheiro mecânico que aceite um trabalho na zona de Anadia vai ganhar 515 euros mensais ilíquidos. A oferta, publicada no site do IEFP, insere-se no programa Estímulo Emprego, que financia empresas para contratar desempregados......"
A esta noticia, similar a outras, somaram-se referências à subcontratação do Estado a valores que rondam os 4,0 Euros/hora para profissionais qualificados.
E desiludam-se aqueles que pensam que a maioria destes jovens vão retornar ao país, com as péssimas condições de trabalho oferecidas, os nossos concidadãos irão fixar-se noutras regiões e aí, casam, têm filhos e irão contribuir para o desenvolvimento de outros países.
Há países como a Irlanda que também sofreram o êxodo de profissionais qualificados devido às medidas de austeridade impostas pela Troika mas  tentam agora reverter a situação oferecendo salários mais justos. Este é o caminho que os nossos governantes devem seguir.

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