quinta-feira, 7 de abril de 2011

Guerra na Libia




A intervenção militar na Líbia pelas tropas da NATO, como previu Fidel Castro*, iniciou-se a 19 de Março com a aprovação da deliberação 1973 do Conselho de Segurança da ONU. A efectivação de uma zona de exclusão aérea depressa se transformou numa guerra generalizada neste país do Norte de África. A proposta inicial de desencadear acções de “protecção a civis inocentes” por parte de países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Canadá, Bélgica, Itália, Espanha, Dinamarca e Qatar, depressa se transformou em acções para “derrotar Kadafi”.
Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão de novo metidos numa guerra dispendiosa - nos primeiros dias já foram gastos 700 milhões de dólares - e criminosa, que dificilmente sairão dela, esquecendo os ensinamentos tirados das guerras do Iraque e Afeganistão. Encontram-se agora num dilema shakespeariano: ou dividir o país em dois, mantendo Kadafi em Tripoli, ou expulsá-lo, desmantelando o exército líbio.

Quanto mais o conflito se prolonga mais as divisões dentro da NATO se acentuam. De um lado, estão os Estados Unidos e a Itália, com a simpatia da Alemanha, que preferem um golpe de Estado contra Kadafi e a formação de um governo com ex Kadafistas e outra oposição. Do outro, o eixo França/ Inglaterra que aposta na operação militar sem anestesia e na entrega do governo aos rebeldes, com quem tem laços privilegiados que pretende fazer valer para disputar uma redistribuição dos recursos petrolíferos da Líbia.

Muita gente da esquerda teve esperança em Obama, Prémio Nobel da Paz, e em Hillary Clinton à frente dos destinos da maior potência mundial. Um negro e uma mulher só por esse simples facto não têm de ser obrigatoriamente progressistas. Este é um raciocínio enviesado próprio da direita: todos os negros americanos são à partida de esquerda. Mas nem um nem outro trazem em si o ADN da luta de emancipação dos negros e das mulheres.

Por outro lado, Kadafi ao fim de 40 anos de governação tornou-se um ditador fascista aliando-se e apoiando aqueles que hoje em dia o atacam. Grandes quantias de dinheiro foram disponibilizadas para políticos de direita italianos e franceses e, segundo uma investigação de um jornalista do Washington Post, Kadafi teria depositado num só banco americano a módica quantia de 30 milhões de dólares, o que mostra uma confiança ilimitada no imperialismo.
O grupo de rebeldes é de tal maneira heterogéneo, os motivos da sua revolta e as suas reivindicações tão nebulosas que é difícil tomar posição favorável.
As informações que temos são que no grupo de rebeldes há desde jovens das redes sociais, que aspiram a uma vida em liberdade, ex-oficiais do exército de Kadafi, que lhe foram fiéis nestes últimos 40 anos, a alguns acólitos de Bin Laden, segundo informações da CIA.
A semelhança com os acontecimentos da revolta da Tunísia e do Egipto é pura coincidência. Os rebeldes rapidamente agradeceram os bombardeamentos dos aviões da NATO e a única reivindicação que se conhece é a expulsão de Kadafi do país. Sobre a exploração dos poços de petróleo nada dizem e em vez de trazerem para a luta os trabalhadores emigrantes (egípcios, tunisinos e centro-africanos), de consciencializá-los para defenderem os seus direitos quando têm sido tão explorados, sobretudo no Leste da Líbia, só ouvimos relatos de discriminação e perseguição pela parte dos revoltosos.

Resumindo, dos dois grupos em confronto na guerra civil venha o diabo e escolha!

Ficamos num dilema antigo dos processos revolucionários: devemos considerar as tropas da NATO libertadoras no apoio aos revoltosos ou condenar a sua intervenção, como uma invasão imperialista, e considerar Kadafi um nacionalista, como acontece em muitos exemplos da história quando o nacionalismo de ditadores e mesmo fascistas já não servia ao imperialismo.


Não é preciso ser marxista para perceber que Obama e Hillary Clinton não conseguem governar contra os poderosos monopólios petrolíferos, a indústria de armamento, os bancos, as bolsas e que, tal como os seus antecessores republicanos, defendem os interesses das grandes empresas transnacionais e imperialistas.

Os povos sofrem enquanto se confrontam por um lado a ENI (italiana), Total (francesa), Repsol (espanhola), BP (inglesa) e Shell (norueguesa e americana) e do outro a Corporação Petrolífera Estatal da Líbia, que Kadafi preparava desde 2009.

E quem vai estar presente na reunião da OPEP, marcada para 2012 em Tripoli, para ditar os preços do crude?

Quanto aos revoltosos, terei de afirmar que nem sempre as revoltas sociais são produto de uma tomada de consciência colectiva e por vezes obedecem a outros interesses.

Faço minhas as palavras do Bispo de Tripoli, Giovanni Inozencio Martinelli, que acaba de condenar um ataque aéreo sobre a cidade, que atingiu hospitais e fez 40 mortos, e apela para uma solução diplomática.


*Ver post a revolta no Levante

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