quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O SONHO DO SECRETARIO DE ESTADO







O SONHO DO SECRETARIO DE ESTADO DA SAUDE

           Um belo dia, o Ministro da Saúde manda reunir o seu staff e comunica: - haverá um incentivo para aquele que me fizer a melhor proposta para reduzir os gastos na saúde.
 - Ainda mais? Pergunta atónito, um dos presentes.
- É a única forma de salvarmos o Serviço Nacional de Saúde, responde o Ministro.
- Já não vou nessa, pensa outro membro do staff, foi, mas foi a Troica que mandou, tu estás – te nas tintas para o SNS.
Mas o incentivo prometido, funcionou. Talvez fosse um lugar de Ministro ou de Administrador Hospitalar de uma PPP.

O nosso herói, Leal da Costa, foi para casa a matutar numa solução milagrosa de poupança de gastos e adormeceu no sofá, enquanto via a “Casa dos Segredos”.

Crianças e adolescentes esbeltos, magros e musculados, bem alimentados passeavam-se pelas cidades, vilas e aldeias do país. Mais pareciam atletas atenienses a prepararem-se para as olimpíadas. Aqui teve um sobressalto e quase acordou (por favor mais gregos não!).
 Voltou ao sono ren ( vulgo vigil) e viu as portagens de Alverca, à entrada de Lisboa, com um dístico enorme,  Mens sana in corpore sano.

A crise tinha atingido os fast food, Mc Burger e Wimpis fechavam em catadupa. As nossas crianças, bem educadas na prevenção da obesidade, recusavam as prendas oferecidas pelas cadeias de fast food que chegaram a oferecer play stations dentro de pacotes de batatas fritas e tudo a preços da “ uva mijona”. E estes, os pacotes de batatas fritas já não se fabricavam.
A fábrica dos pastéis de nata faliu. O Ministro Álvaro Santos Pereira, numa crise de loucura voltou para o Canadá, aos gritos: - deram cabo do meu negócio!

As refeições, concebidas por nutricionistas, eram fornecidas nas escolas e a disciplina de educação física voltava a contar para a nota de final de ano. Em três penadas arrumava com o Crato, já despachara dois ministros e resolvia o problema da obesidade infantil.
O português médio, depois dos 40, jamais seria o barrigudo com o estômago dilatado ( sinal de gordura cardíaca) e as mulheres continuavam esbeltas e não mais exibiriam a sua queue de cheval proeminentes, para quem desconheça o termo é o vulgarmente chamado rabo em pêra  com gordura pré trocanteriana. (lembremos que era um sonho de um médico).

Outras adições para os jovens acabavam, o tabaco pagava um imposto tão alto que só os milionários fumavam, os outros passavam a fumar barbas de milho, o que não é viciante. Todas as drogas tinham acabado. E isto tudo devido a uma simples intervenção na televisão do nosso querido secretário de estado a pedir para não recorrermos tanto aos serviços de saúde.

As doenças respiratórias, ainda pesavam muito no orçamento da saúde. Assim, proibiu-se a circulação de veículos a motor em todas as cidades. Os vendedores e construtores de automóvel revoltaram-se mas a polícia de choque foi implacável e os protestos acabaram. Os Ministros , Secretários de Estado e deputados da maioria parlamentar eram os únicos que podiam circular em veículos motorizados.

Nas doenças infecciosas: - SIDA, Tuberculose, etc., os doentes eram obrigadas a colocar um sino no artelho para avisarem à sua passagem. (como na Idade Média os leprosos).

Faltava reduzir o número de depressões que ainda recorriam muito ao SNS e despendiam muito dinheiro em medicamentos. Ideia luminosa, privatiza-se a Televisão; o Relvas, Passos e Gaspar ficam contentes e a programação passa a ser novelas cor-de-rosa e concursos tipo “Casa dos Segredos” ou “Quem quer ser milionário” e no Noticiário será proibido falar sobre a crise ou desemprego. Os suicídios serão incentivados nos mais velhos, a fim de corrigir a pirâmide etária.

O nosso herói dormia a sono solto com um sorriso beatífico nos lábios, gulosando já a sua cadeira de Ministro da Educação ou da Economia, seguramente o curso de Medicina não seria impeditivo para o lugar, pois, até tinha um curso de administração hospitalar pela Católica.
Bruscamente acorda estremunhado com um grito: - ACORDAI!
Porra, agora Lopes Graça e as Heróicas NÃO! 



3 comentários:

  1. Tem aqui um excelente texto, Dr!!!
    A imagem do "nosso herói" com um sorriso beatífico é um "must". Até dá para nós imaginarmos o senhor numa cena qualquer, digna de um desenho animado com aquelas personagens maquiavélicas que mostram aquele sorriso com um brilho suspeito e os olhos a faíscarem coisas estranhas...
    Valha-nos ainda algum sentido de humor, mas isto não está nada fácil.

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