quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MEMORIA HISTORICA




MEMÓRIA HISTÓRICA

A história pode definir-se como a ciência da memória, além dos historiadores e dos documentos oficiais escritos, os povos devem ter a memória de todos os momentos da crónica do seu país, sejam eles gloriosos ou períodos negros. Quando um povo não consegue, na sua memória colectiva, conhecer e “ enterrar” os períodos mais negros da sua história recente nunca conseguirá construir um Futuro.

A coberto de uma narrativa tendenciosa e partidarizada dos factos, neste caso na Europa e nomeadamente na Península Ibérica, aparecem contadores de histórias assépticos, meros técnicos que produzem fenómenos como o tristemente célebre concurso televisivo: “ Grandes Portugueses “ que elegeu, manipulado ou não, Oliveira Salazar como o maior português de sempre.

A nossa vizinha Espanha, em que o modelo de transição do Fascismo para a Democracia tem sido tão lisonjeado e aplaudido, com a amnistia geral decretada à época, que no espírito de Indalécio Prieto e Gil Robles achavam que a reconciliação nacional só poderia existir apagando o período sanguinário da Guerra de Espanha. Ideia contrária é manifestada por Francisco Etxebarria que desde o inicio do século XXI participou activamente na exumação de fossas de pessoas assassinadas e desaparecidas durante este período.

Emílio Silva, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica, tem tido também um papel importante na luta para que não caiam no esquecimento as atrocidades perpetradas pelos fascistas de Franco sobre o povo espanhol.

Hoje são os netos de antifascistas: militantes republicanos, socialistas, comunistas ou anarquistas, assim como de centenas de desaparecidos de servidores da República, eleitos pela Frente Popular: alcaide, governadores civis, chefes de Juntas ou simples operários e camponeses, como aconteceu duma forma bárbara em Badajoz e na raia da Estremadura, que exigem o direito a saber o que aconteceu aos seus familiares desaparecidos.

Calcula-se em 50 000 os opositores mortos em fuzilamentos, numa ilegalidade completa, pelas tropas franquistas e pelo tristemente célebre “ esquadrão negro “ durante a guerra de Espanha.

Quando Franco morreu os arquivos do exército foram destruídos (também cá a PIDE conseguiu fazer desaparecer muitos documentos), milhares de documentos foram queimados. Não deixou traço administrativo a morte de todas estas vítimas, ficou um vazio como se nada tivesse existido.

A Espanha é uma “gigantesca vala comum” foi o grito lançado, em 2006, pelos activistas da Associação para a Recuperação da Memória Histórica que através da Internet conseguiu uma grande mobilização, sobretudo dos netos das vitimas, hoje já “quarentões”.

As suas associações desenvolvem acções junto do Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU e reclamam ao governo espanhol que resolva por via judicial, à semelhança do que se passou no Chile e na Argentina, o dossier dos desaparecidos. A Espanha, a seguir ao Cambodja é o país com o maior número de desaparecidos.
Uma lei da memória foi finalmente votada em Dezembro de 2007, não será estranho o facto de José Luís Zapatero ser também neto de um republicano fuzilado durante a Guerra Civil.

Ajudou sem dúvida a evocação do 70º aniversário da morte, a 19 de Agosto de 2006, do mais célebre dos desaparecidos, Frederico Garcia Lorca. Poeta andaluz, da Casa de Bernarda Alba, do Romancero Gitano e tantas outras obras escritas na sua curta existência.

Foi ele que disse: “ Estou e estarei sempre do lado dos que têm fome”

e cantou :

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña

Preso sob a acusação de comunista e homossexual, Franco não conseguiu apagar a sua morte mas sim a sua sepultura. Nas fichas burocráticas a morte do poeta ainda hoje consta que foi devido a uma bala perdida, apesar do seu carrasco fascista se gabar de o ter morto pelas costas devido à sua homossexualidade.

O célebre juiz Baltazar Garzón além de abrir o dossier Lorca ordenou a abertura de 19 fossas segundo os 43 relatos enviados pelos activistas das associações de familiares.

Desde este Outono que o Governo de Andaluzia aquiesceu e ordenou a exumação da fossa onde se pensa estar os restos mortais de Garcia Lorca. Os arqueólogos ainda não encontraram vestígios do seu corpo, mas outros foram encontrados.

Pela memória histórica temos de restituir às vítimas as suas identidades e possibilitar aos seus familiares que os enterrem com dignidade.

Passados quase 70 anos sobre a guerra civil espanhola é evidente que não se trata aqui dum ajuste de contas ou de vingança, pois quase todos os intervenientes já estão mortos. Mas os governos democráticos aqui incluo o português devem promover e divulgar o estudo sem tabus da história contemporânea.

A pressão cada vez maior das forças do saudosismo nacionalista e obscurantista leva ao regresso do medo de falar e de tomar atitudes progressistas frontais nos empregos e na rua.

3 comentários:

  1. Falei de ti e da Teresa aqui.
    http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2010/01/08/comunistas-e-socialistas-anos-60-e-tambem-70/
    Agora o mal está feito. Paciência. Verifico que não temho o teu email e também não tens um, de serviço, aqui no blog.
    Abraço
    Raimundo

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  2. Raimundo

    Tu deves ter o meu mail, porque já tinha comunicado contigo antes da criação do face book.

    Lemos o teu artigo e gostámos muito. Achei interessante o comentário da Lena Pato, a história do PCP e da luta antifascista vai-se perdendo ou deixando ao crítério de historiadores duvidosos.
    Abraço
    Jaime e Teresa

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