sábado, 12 de junho de 2010
Discurso de José Fernandes Fafe
Que posso eu dizer do Dr. Abílio Mendes? Umas memórias caseiras...
Ele era médico dos meus filhos, e daí, muito falado em casa. Foi o que aconselhou o Dr. Abílio, respondia-me a minha Mulher. Foi o que mandou o Dr. Abílio, calava-me a minha filha. Dr. Abílio dixit, magister dixit ... O argumento de Autoridade. Submeti-me sempre. Explico porquê.
Minha Mulher tinha no Dr. Abílio Mendes uma confiança total. Minha filha, que foi sempre bem disposta, quando o via ficava ainda melhor disposta. O meu filho, uma vez, acabara o Carlos Mendes de ganhar um Festival da Canção, entrou pelo consultório do Dr. Abílio, a cantar: O Verão já terminou/foi um sonho que findou... - E o dr. Abílio?, perguntei à minha Mulher. - Riu-se a bom rir. E ele tinha um riso bom, o dr. Abílio Mendes.
Como se chama aquele livro do Hemingwai ... Paris é uma festa. Os meus filhos, irem ao consultório do dr. Abílio, era para eles uma festa.
Já fiz, de uma forma pouco canónica, talvez, mas eu não sei quais são os cânones...- canónico elogio.
Infundia a maior confiança na sua competência profissional. Estabelecia com as crianças uma imediata relação simpática, que lhe dava as melhores condições de observação clínica. Ergo : um pediatra excepcional.
O cidadão?
Cidadão: o que se preocupa com o interesse geral, e está treinado para reconhecer as situações em que deve sobrepor esse interesse a qualquer outro, incluindo o pessoal.
Do meu conhecimento directo do dr. Abílio Mendes e pelo que me dizem dele, retiro que faz jus ao grau republicanamente sagrado, de cidadão.
Ele pertenceu à vaga geracional que trouxe António Macedo, os Cal Brandão, José Magalhães Godinho, Raul Rego ..., à nossa " longa marcha ", 1926-1974, quarenta e oito anos, quantos ficaram pelo caminho?, mortos, e os feridos, os presos, os torturados, os marginalizados,,,
Isto sem martirológico, que tende a levar a uma espécie de auto-compaixão que não aprecio. Estamos cientes de que a nossa " longa marcha" é apenas um episódio local de uma longuíssima marcha, que vem desde... a origem do Homem, e vai até... - se dissemos " origem do homem", temos de dizer até ao fim do Homem...Porque isto começou sem nós e com certeza acabará sem nós.
Para não falar das informações que nos chegam sobre o post-humano que os geneticistas nos estão a preparar...
Mas eu não vim aqui para incutir mais pessimismo às pessoas...Adiante
Adiante, aonde? Um riso de criança... Não ouvem? São as crianças de que o dr. Abílio Mendes foi médico, que mandaram o seu riso a esta homenagem. Dançam à roda da evocação que estamos a fazer dele, álacres cintilações de risos de crianças.
E o melhor de tudo, não são ( o Fernando Pessoa enganou-se ) as crianças, mas o riso das crianças.
Já ganhámos o dia
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