terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HAITI 2

Baby Doc a caminho do Tribunal, no Haiti



O que mais irá acontecer?




Depois de todas as desgraças que se abateram sobre este povo, tema de dois posts anteriores (Haiti e Terramoto) -, eis que inesperadamente surge mais um “terramoto”: o regresso ao país do ex ditador e assassino Jean Claude Duvalier, tristemente conhecido como Baby Doc.

Este indivíduo fugiu do Haiti, em 1986, devido a uma revolta popular, num avião da Força Aérea dos EUA, com a ajuda da administração Reagan, levando consigo a família e grandes quantias de dinheiro, jóias, diamantes e objectos de arte.

Na altura, organizações latino-americanas e europeias, solidárias com a luta do povo do Haiti, conseguiram que fossem bloqueados nos Bancos Suíços cerca de 7,6 milhões de francos suíços das contas pertencentes a Duvalier, reclamando que fossem restituídas ao Estado do Haiti.

Um grupo de exilados haitianos exigiu que Baby Doc fosse acusado como responsável de mais de 60 000 assassínios ordenados pela dinastia Duvalier.

O ex ditador e sanguinário tinha construído uma sala de torturas no sótão do seu palácio para assistir às execuções de presos políticos.

O United Nation Office on Drugs and Crime (UNODC) avaliou os fundos roubados pelos Duvalier ao Estado Haitiano a uma quantia entre 500 a 2.000 milhões de dólares. Este escritório relatou em Setembro de 2004 que grande parte da divida externa do Haiti foi contraída antes de 1986, ou seja, a população mais pobre do continente americano encontra-se a pagar somas que foram desviadas para a fortuna pessoal dos Duvalier.

Mas onde esteve este senhor estes 25 anos e porque regressa ao Haiti?


A França, ex potência colonial, acolheu-o e concedeu-lhe residência ao abrigo de uma protecção humanitária temporária ( o temporário tornou-se permanente).

Ele e a mulher instalaram-se numa mansão luxuosa na Côte D’Azur e gozaram dum exílio dourado. Foram identificadas contas bancárias dos Duvalier na Suiça, Luxemburgo, Inglaterra e Estados Unidos.

Em França eram proprietários de várias casas luxuosas, entre as quais o castelo de Théméricourt no Vale d’Oise, vários apartamentos em Paris. Tinham outro na 5ª Avenida, em Manhattan.

Desfrutaram sempre da protecção das autoridades francesas e nunca nenhuma acção judicial conseguiu chegar ao fim.

A instalação agora de Baby Doc e da sua segunda esposa numa suite de um luxuoso hotel de cinco estrelas, hotel Karibe, na desventrada Port- au - Prince, sob a protecção dos Marines, da policia haitiana e dos Capacetes Azuis - apesar dos apelos da Amnistia Internacional e de outros organismos para a sua prisão e julgamento imediato - é uma afronta não só aos haitianos como a todos os cidadãos livres deste Mundo.

Após uma conferência de imprensa, passadas 48 horas de estada no País, Duvalier é conduzido perante um juiz e acusado de “ corrupção, roubo e má utilização de dinheiros públicos” ficando em liberdade condicional.
Claro, que nas acusações feitas não lhe imputam crimes de lesa humanidade pelos quais foi acusado por sobreviventes da repressão e por organismos de direitos humanos e de solidariedade com o povo do Haiti.
Estes crimes não prescrevem ao contrário dos delitos económicos.

A sua vinda súbita, já serviu para o Presidente Préval, aproveitando o ruído mediático, ignorar a visita do Secretário da OEA portador de um documento, com provas e indícios de fraudes e irregularidades, sugerindo que não fossem considerados válidos os resultados das eleições de Novembro. Estas eleições permitiam passar à segunda volta o candidato apoiado pelo Presidente.
Apesar disto, o Conselho Eleitoral Provisório do Haiti já anunciou que não mudará os resultados, como sugeriram os observadores internacionais.

Vários jornalistas, conhecedores da politica haitiana, não acreditam que Duvalier queira radicar-se novamente no Haiti e encabeçar um movimento politico. Crêem mais provável que tente recuperar os milhões de dólares bloqueados nos Bancos Suíços e regressar tranquilamente e impunemente a França perante a hipocrisia da comunidade internacional.

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