terça-feira, 15 de outubro de 2013

O bloguer antes do blogue

Fernando Henriques Vaz  foi um médico, creio que dentista, amigo e colega de curso do meu pai, como reza o livro de curso do V ano médico de Lisboa, 1935/1936.
" Médico e jornalista, alma bondosa,/E cheio de talento/ Estou a vê-lo, dedicado e forte/Na senda dolorosa/Do sofrimento/A dar alívio à dor, combate à morte!" escreveu o seu amigo José Augusto de Castro no já citado livro de curso.
Lembra-me dele passar no consultório da António Augusto de Aguiar, para entregar ao meu pai mais um dos seus Quadros Incompletos, todos edição de autor, compostos e impressos numa tipografia no Bombarral.
Ao ler estas crónicas soltas, pensei aqui está:- um bloguer antes da invenção do blogue e da internet.
Numa das suas crónicas descreve com muita minúcia a sua iniciação no Grande Oriente Lusitano, já na clandestinidade, o que não deixa de ter o seu valor histórico.
Hoje, vou falar-vos sobre o que ele chamou de "Tertúlia Famosa" dados sobre a história do 28 de Maio.
Cito:-"Foi-me narrado pelo Sr. Almirante Mendes Cabeçadas que quem chefiava superiormente a Marinha e a revolução era ele e a ele cabia dar o sinal do barco em que ele estaria, como deu, e o Sr. General Alves Roçadas chefiava o exército e iria comandar as forças de Braga." Porém, o General adoeceu e foi-se adiando o dia da revolução. Como ele nunca mais se levantou da cama"...ofereceram insistentemente o comando ao Sr. General Carmona que sempre recusou. Convidaram,então, o Sr General Gomes da Costa que também recusou e só aceitou quando muito ferido no seu brio pessoal pelo próprio Almirante, pelo tenente Pereira de Carvalho, de Braga e muitos outros."
Foi como se sabe Gomes da Costa que comandou os revoltosos.
Prossegue a crónica:-" Nunca o Sr. Almirante quis esclarecer-me uma coisa que me intrigava altamente: - Porque esperou aquele tempo na Amadora?( Segundo uns 7 dias, segundo outros 9, Ele já não precisava) - Esperava por Costa Gomes, dizia"  A resposta vêm-lhe de um artigo, publicado num jornal de Coimbra, do Tenente-coronel Alcides: -" Ética militar, compromissos anteriores e camaradagem mas também porque não estava assente qual seria o Presidente da República. Uns queriam o General Roçadas e outros o Almirante Cabeçadas. Portanto, agora que Roçadas estava às portas da morte, os revoltosos que decidissem. E esperou". 
"-Porque não tentou vencer o "golpe de estado" que o destituiu?
Porque eles eram revoltosos do 28 de Maio, eram-no por influencia minha e portanto reconheci que não se devia esmagar, dias depois, como poderia ter feito, uma vez que tinha comigo toda a guarnição militar de Lisboa, a aviação e os fuzileiros navais."
" - Também me confessou que quando se encontrou com o Dr. Bernardino Machado, e por convocação dele, para lhe fazer a entrega de todos os poderes, logo se arrependeu da sublevação, mas não arrepiou caminho porque tinha empenhada a sua palavra nela e porque, isso, equivalia a ter de se bater com os amigos e com quantos ele revoltara. Uma traição! E não podia ser!...,dizia."
Também nunca acreditou que tivesse sido o Gomes da Costa a destitui-lo 13 dias depois.
HOMEM e MILITAR de Palavra.!
Este pequeno ou grande episódio , mostra -nos à evidência que o 28 de Maio não foi um intentona fascista, como muitas vezes se escreve. Porém, estas e outras hesitações abriram as portas ao fascismo que ficou 48 anos.
Oh Cabeçadas! Grande asneira que fizeste! dizia-lhe, mais tarde, o seu amigo e companheiro de armas o Almirante Tito de Morais.


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